Tune Yards
“Nikki Nack”
4 AD
3 / 5
O caldeirão de ebulição de ideias que foi a new wave deu-nos, há pouco mais de 30 anos, uma série de experiências de diálogo entre linguagens rítmicas de outras origens e o espaço da canção de genética pop/rock (e arredores). Dos espaços do então chamado 'burundi beat' nuns Bow Wow Wow às visões de liberdade ensaiadas por uns Tom Tom Club (ou até mesmo uns Talking Heads) a cultura pop cedo descobriu e assimilar formas diferentes. De certa forma podemos entender o trabalho da norte-americana Merrill Garbus como uma descendência, no nosso tempo, dessa mesma sede de diálogos. Pelos seus discos, que assina como Tune Yards, correram já heranças de África, que ali se cruzaram com eletrónicas e um sentido desafiante de construção de canções. Nikki Nack, o seu terceiro álbum, não procura escapar ao trilho que ela mesma definira nos anteriores Bird-Brains (de 2009) e Whokill (2011). Relativamente austero nos recursos, mantendo firme um protagonismo da voz e do seu relacionamento com uma matriz percussiva, aceitando sobretudo a presença de elementos eletrónicos (e por vezes com uma dimensão cénica, até mesmo teatral), Nikki Nack é uma coleção de canções de formas angulosas, umas vezes com estruturação mais coesa, outras vezes ensaiando caminhos de maior liberdade não apenas na arte final das formas, mas no próprio pensar do corpo da composição. Há aqui momentos irresistíveis, como os que escutamos no (muito bem escolhido) single no tema-título Water Fountain ou no tema título onde as frestas de abertura a uma luminosidade pop ajudam a arrumar ideias e mostram como a música de Merrill seria ainda mais marcante se fosse sua a vontade de a estruturar e arrumar com uma pitada de cor pop.