sábado, maio 10, 2014

Eurovisão 2014:
Abaixo do mau há ainda o péssimo...


Hoje tem lugar mais uma final do Festival da Eurovisão. Uma final com a particularidade de não apresentar uma única canção que ultrapasse o patamar de uma mediocridade que tem, de ano para ano, alastrado entre as presenças num concurso outrora marcante, hoje coisa inconsequente (salvo talvez a Leste ou entre os países nórdicos onde ainda agita o mercado, isto sem esquecer uma franja de culto australiana que este ano teve até direito a uma canção fora de concurso na segunda semi-final).

Com Portugal eliminado (a canção era má, mas havia piores e acabaram selecionadas), resta-nos ficar a ver os pontos passar. E ver se a vitória brilha à Suécia (com uma balada formatada, de tradição eurovisiva, mas vazia de ideias musicais e anacrónica), ao efeito-choque da Bond-song de loja dos 300 de Conchita Wurst austríaca (que pode reativar o efeito Dana International de 1998), ao flirt da canção alemã sobre o universo pop à la Marina and The Diamonds ou se, no fim, o mapa de tensões geopolíticas do momento terá alguma expressão na votação pela péssima canção ucraniana, da qual a única coisa que fica é o homem que corre ao jeito de um hamster numa roda atrás da cantora (e se a coisa é mais de gimmicks que de músicas, porque não passou o homem com pára-quedas da Geórgia?)... Convenhamos que, fossem aqui aplicadas regras de outros concursos, nenhuma deveria ganhar este ano, voltando no ano seguinte com a recomendação: “vejam lá se fazem um pouquinho melhor”...

A verdade é que nem sempre o concurso foi tão mau como este ano (e os recentes, convenhamos) nos mostra... Por isso, a seguir aqui fica mais uma memória de canções que, por ali, fizeram história.


Clássicos eurovisivos
Amina (França, 1991)


O facto de Paris ser há muito uma importante capital discográfica para expressões de várias músicas de diversas proveniências geográficas, sobretudo africanas (do Magrebe às regiões subsarianas), teve já expressão em vários episódios da história de representações francesas na Eurovisão. Mas a musicalmente mais importante, e competitivamente mais expressiva, aconteceu em 1991 quando a França se fez representar pela cantora tunisina Amina Annabi (então apresentando-se apenas como Amina).

Filha de um tunisino e de uma francesa, Amina nasceu em Cartago em 1962. A sua era uma família de músicas, com a sua avó e tios diretamente envolvidos com a produção do Festival de Tabarka, o que lhe permitiu desde cedo um convívio com músicos e diversas expressões musicais. Foi no festival que conheceu o músico senegalês Wasis Diop, com o qual acabaria por trabalhar mais tarde depois de se mudar com a mãe para Paris, o que aconteceu em 1975.

Foi precisamente ao lado de Wasis Diop que assinou a autoria de C’est Le Dernier A Parler Qui A Raison, canção que levou ao Festival da Eurovisão em 1991, num momento de afirmação de uma carreira a solo na música (tinha colaborado com Bertolucci em Um Chá No Deserto e participado num projeto de Peter Gabriel no ano anterior). A canção, que transportou para o palco eurovisivo sonoridades então pouco habituais da música árabe, acabou a noite empatada com a banal canção sueca que, pelos critérios de desempate da UER, acabou por ser considerada a vencedora. 


Amina acompanhou a sua experiência eurovisiva com o lançamento de um primeiro álbum, ao qual se seguiria, em 1993, o belíssimo Wa Di Yé, disco que representa um dos momentos maiores de afirmação da abertura de horizontes proporcionada pelos espaços da world music nos anos 90. Gravou ainda mais dois discos, mas tem concentrado grande parte da sua atenção no cinema.