quarta-feira, maio 07, 2014

Em conversa: Dean Wareham


Este texto é um excerto de uma entrevista com Dean Wareham que foi publicada na edição de 6 de maio do DN online.
Conhecemo-lo em finais dos anos 80 nos Galaxie 500, nos noventas, nos Luna, mais adiante tendo gravado com Britta Phillips. Depois de há alguns meses nos ter apresentaddo um EP a solo, apresenta-se finalmente com um disco em nome próprio - um belíssimo álbum de alma indie a que deu o seu próprio nome -e hoje estará em Lisboa para apresentar estas canções em concerto no Sabotage (Cais do Sodré) às 22.30. Esperámos um quarto de século para o escutarmos em nome próprio. Mas valeu a demora. Dean Wareham falou ao DN e fica aqui a transcrição dessa conversa:

Tem uma discografia que remonta a finais dos anos 80, primeiro com os Galaxie 500, depois os Luna, mais adiante com Britta Phillips. Porque levou tanto tempo para editar um disco em nome próprio? 
Acho que foi porque sempre tive bandas. Pensei nisso em 1992, quando comecei os Luna... Mas gosto da textura das bandas. Mas agora estou mais velho e acho que as bandas são para miúdos. Não sei... Tem a ver com a forma de organizar a nossa vida e há coisas que se tornam mais difíceis quando ficamos mais velhos.

A escrita de canções é uma arte que leva tempo a desenvolver-se e se calhar com o tempo torna-se algo tão pessoal que talvez colida com as ideias dos outros com quem se partilha o trabalho numa banda. A menos que se seja claramente o seu líder... 
Nos Luna eu acho que era um pouco o líder. Mas sim, discutíamos muito sobre tudo. Como as bandas de resto fazem. Tínhamos de tomar decisões colaborativas sobre tudo. Mas é verdade, quando se envelhece ficamos mais exigentes connosco quando escrevemos. Quando era mais novo ficava feliz se tivesse qualquer coisa para cantar, fosse o que fosse. 

Hoje os temas antecipam o pensar sobre a música quando avança para a escrita de uma canção?
Não. Os temas só se tornam mais claros mais adiante. A música aparece primeiro. Às vezes acontece em paralelo. Há ideias musicais e de letra e fico sem saber qual fica bem com o quê até as experimentar.

A sua voz o saber na escrita evoluíram gradualmente. Nunca houve saltos grandes na sua obra...
Sim, acho que sempre fiz uma canção de cada vez. E até ao abordar um álbum, nunca houve aquelas decisões de fazer um disco eletrónico ou um álbum disco ou um disco feliz. Era sempre o que cada canção pedia. 

As suas referências ainda são as mesmas desde os dias dos Galaxie 500? Ou seja, mantém essas referências formadoras ainda vivas? 
Creio que sim... Tenho tantos discos... Hoje tanto escuto Brahms como o meu disco preferido dos Clash. Creio que as opiniões que formamos aos 15 ou 16 anos tendem a permanecer connosco. Eu vivia em Nova Iorque, com essa idade, por altura das bandas punk... Ouvia os Ramones, os Talking Heads, Television, Suicide. E ainda presto muita atenção a essas bandas. 

Isso foi quase um curso universitário!... 
Sim, foi mesmo quase como um curso universitário num dos períodos mais importantes da história do rock'n'roll. Nada se compara àquilo... Mas falou-se depois de uma segunda onda de bandas nova iorquinas nos anos 2000... 

As experiência dos dias de mais tenra juventude, quando ainda estava na Austrália, viajaram alguma vez para a sua música? 
O meu irmão mais velho ouvia David Bowie, Iggy Pop e os Roxy Music. Tinha discos do início dos Bee Gees. Neste disco há uma canção , o Love is Not a Roof Against the Rain, que tem uma progressão de acordes que tirei do New York Mining Disaster 1941. Tinham 18 ou 19 anos nessa altura!... É incrível.