Um festival de cinema é também feito de vítimas — no sentido jornalístico, entenda-se. André Téchiné, por exemplo. Tendo em conta que o seu novo filme, L' Homme qu'on Aimait Trop, evoca um caso dramático, nunca totalmente esclarecido, que abalou a França — o célebre "affaire Le Roux", desencadeado pelo misterioso desaparecimento, em 1977, de uma jovem herdeira de um casino de Nice —, não se compreende o misto de silêncio e indiferença com que, de um modo geral, os media franceses reagiram à sua apresentação (extra-concurso). E tanto mais que o elenco integra Catherine Deneuve, Guillaume Canet e ainda, no papel de Agnès le Roux, a admirável Adèle Haenel. Dir-se-ia que a perenidade de Téchiné na paisagem do cinema francês (a sua primeira longa-metragem, Pauline s'en Va, data de 1969) é encarada por alguns como uma mera rotina. Se a rotina é esta arte de percorrer as convulsões dos afectos, pressentindo o labor do Mal, vale a pena proclamar: abençoada rotina.