Em mais de metade do comovente Mommy, Xavier Dolan não utiliza as zonas laterais do formato panorâmico, remetendo a imagem para um quadrado central, em claustrofóbico equilíbrio. Tendo em conta que a mãe é a matriz central do filme (porventura de todo o universo cinematográfico de Dolan), hesitamos entre dizer que, assim, entramos no espaço de uma incestuosa angústia ou na segurança utópica de um casulo onde o luto pela figura do pai há muito foi concluído. Daí o singular mistério de Anne Dorval, no papel da mãe — carnal e abstracta, resiste à infinita repetição do "diz-me que me amas".