quarta-feira, janeiro 22, 2014

Uma obra-prima da pop dos oitentas


Um ano depois da estreia em álbum com Please, uns Pet Shop Boys robustamente amadurecidos apresentavam um dos melhores álbuns pop dos anos 80. Tal como sucedera com alguns temas do disco de estreia, curiosamente parte das canções vinha dos tempos em que o grupo trabalhara as suas maquetes, ainda sem contratos nem editoras por perto. Menos centrada na valorização dos elementos rítmicos, a produção de Actually revela uma atenção maior pelo detalhe, que os arranjos (mais elaborados) também sublinham. O álbum abre com uma nova versão de One More Chance, que em 1984 havia sido o seu segundo single (co-assinado por Bobby Orlando, cujas marcas de identidade são bem visíveis no instrumental). O alinhamento inclui clássicos maiores do grupo como It’s A Sin, Rent, Heart e uma parceria com Dusty Springfield em What Have I Done To Deserve This? E junta em It Copuldn’t Happen Here um dos momentos mais pungentes da lírica pop na idade da sida, numa canção que questionava se no Reino Unido se atingiria o patamar trágico que a doença entretanto havia atingido nos Estados Unidos. Contando com a colaboração de Ennio Morricone na escrita e com arranjos de Angelo Badalamenti, esta canção nunca foi editada como single (embora tenha dado título a um filme protagonizado pelo grupo) e, juntamente com King’s Cross, representa um dos momentos mais belos do álbum musicalmente exigente e liricamente profundo que confirmou em 1987 os Pet Shop Boys como uma força maior (e potencialmente duradoira) na história da canção pop.
PS. A foto da capa é um dos mais espantosos exemplos de utilização de um sentido de nonsense face às normas habituais na cultura pop. Nunca um bocejo foi tão... pop.