Burial
“Rival Dealer”
Hyperdub
5 / 5
Durante algum tempo era um anónimo que todos conheciam apenas pela música que fazia e pelo nome com o qual se apresentava. Burial, afinal, não era mais senão William Emmanuel Bevan, um londrino que passara pela mesma escola que teve como alunos Joe Goddard dos Hot Chip ou Kieran Hebden (a alma do projeto Four Tet, com o qual William colaborou). A identidade de Burial só foi revelada em 2008, numa altura em que a sua discografia contava já com os álbuns Burial (2006) e Untrue (2007). De então para cá, e após um silêncio de dois anos depois de Untrue, a sua obra tem vindo a ser revelada apenas nos formatos de single e EP. E foi com um EP que chegou ao fim de 2013. Trata-se de Rival Dealer, sucessor de Truant/Rough Sleeper que editara um ano antes. Mantendo firmes muitas das marcas de identidade (daquele que é claramente um dos mais inspirados dos músicos que operam em terreno eletrónico no presente), Rival Dealer revela contudo sinais de novas buscas no universo musical de Burial. E partindo para lá dos tons sombrios (ocasionalmente assombrados) em que viveu grande parte do seu trabalho anterior, aqui há sinais de outra luz e outras emoções. As três composições são extensa e, particularmente em Come Down To Us nota-se uma procura de um conforto diferente que se sugere tanto através de um melodismo mais evidente como pela criação de espaços cenográficos menos tensos, mais quentes, mais emocionais. No final ouve-se mesmo um excerto de um discurso de Lana Watchovsky (um dos elementos do par que assinou a trilogia Matrix), proferido quando aceitou o Human Rights campaign Visibility Award. O tema ganha assim o fulgor de um plácido clamor pela diversidade, juntando-se de certa forma a Shaking The Habitual, dos The Knife, na construção de uma nova discografia que debate as questões da identidade de género. E sendo assim, toma também uma dimensão política.