The Blow
“The Blow”
Kanine
4 / 5
Já com mais de dez anos de vida, a dupla The Blow é um belo exemplo de um entendimento a dois não apenas entre duas profissionais da música, mas também entre as electrónicas e uma certa identidade indie que faz com que, mesmo abrindo horizontes da escrita à canção pop, por aqui haja uma evidente falta de vontade em ceder a tentações dos caminhos mais em voga. Chamaram The Blow ao seu mais recente disco – editado ainda em 2013 mas agora com distribuição entre nós – e, como parece sugerir a velha tradução de atribuir o nome da banda a álbuns com um peso maior na sua obra, na verdade parece que aqui assinalam aquele que é, até aqui, o mais consistente dos episódios da sua discografia. Elas são na verdade Khaela Maricich e Melissa Dyne (juntas no trabalho e na vida privada), e pela história das Blow passou em tempos Joanna Bechtolt, que entretanto temos acompanhado via Yacht. A visão da dupla transcende o mero espaço da criação musical e incorpora na sua identidade não apenas uma vontade em juntar elementos dos espaços da performance e das artes visuais e promove, através da ligação maior entre as suas duas almas, uma reflexão sóbria e cativante sobre a vida, os relacionamentos, os pequenos e os grandes nadas que fazem o dia a dia de quem vive a dois. Com belíssimos momentos de escrita pop como os que escutamos em A Kiss, From The Future ou, sobretudo, Hey (o single que devia ter sido e ainda não o foi), The Blow é um belo disco para quem acredita na canção como forma de retratar quem somos. E na pop electrónica como uma linguagem que não se esgota nem nas tendências do momento nem numa vontade em inventar o momento a seguir. Há uma paz por aqui, que sabe bem, como uma tranquila vida doméstica.