É bem verdade que Michael Jackson (1958-2009) ocupa um lugar central na história moderna da cultura afro-americana e, através disso, na história do imaginário pop. Algo esquecido, ou incompreendido, na sua herança é o facto de ele ter cantado, não exactamente a diferença da cor da pele, mas a sua indiferença. Aliás, na bem chamada canção Black or White (e não "Black and White"), Jackson proclama sem equívocos a necessidade de superar a visão do mundo através da mera inventariação das "raças":
See, it's not about races, just places, faces
Where your blood comes from is where your space is
I've seen the bright get duller
I'm not going to spend my life being a color
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Lorena Turner, fotógrafa e professora de Nova Iorque, interessou-se pelo facto de a condição de imitador de Michael Jackson ser, nos EUA, não apenas uma forma de culto, mas um espaço profissional com muitos e dedicados representantes. As suas imagens estão coligidas num livro actualmente em pré-venda, a ser editado em Maio, com o título linear e eloquente The Michael Jacksons — são fotografias de 35 imitadores profissionais de Michael Jackson que, no limite, definem uma sub-cultura em espectacular desenvolvimento. Como se o voto de Jackson tivesse abençoado aqueles que, com qualquer cor de pele, reproduzem e reinventam a sua arte de muitas contaminações estéticas — são também gestos de um luto pudico, de paradoxal alegria.