Não é tanto a personalidade de Walt Disney, como a própria produção Disney que arrisca colocar-se em frente do espelho nesse curioso filme que é Ao Encontro de Mr. Banks, dirigido por John Lee Hancock. Em causa estão, como é sabido, as atribulações da produção de Mary Poppins (1964), opondo o conceito de espectáculo do próprio Disney ao purismo conceptual de que P. L. Travers, autora dos livros, não queria abdicar. De qualquer modo, para além (ou através) desse confronto de personalidades — magnificamente interpretadas, respectivamente, por Tom Hanks e Emma Thompson —, aquilo que emerge é o carácter material dos bastidores da produção, por assim dizer relativizando o artifício inerente ao universo do homem que criou um mundo (Disneylândia) literalmente à sua imagem. Nesta perspectiva, Ao Encontro de Mr. Banks envolve o paradoxo original da cinefilia: o de poder reforçar o encanto do espectáculo através da desmontagem dos seus próprios artifícios.
>>> Mary Poppins recebeu cinco Oscars da Academia de Hollywood, incluindo o de melhor actriz, para Julie Andrews — eis o registo do seu agradecimento.