UMA LIÇÃO DE AMOR (1954) |
Grande acontecimento em Lisboa e Porto: a apresentação de 17 filmes de Ingmar Bergman (1918-2007), a maior parte em cópias restauradas — razões de sobra para rever algumas imagens emblemáticas da filmografia do mestre sueco.
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É verdade: por mais que sintamos o trabalho de Bergman como uma viagem às zonas mais sombrias do comportamento humano, perpassa pela sua obra a luminosidade da comédia. Esta história de um ginecologista (alô, Freud...) que, numa viagem não muito poética, tenta salvar o seu casamento apresenta-se encenada como uma promessa de drama que, a pouco e pouco, se desmancha, literalmente, nos acidentes da comédia romântica. Em todo o caso, mais do que o reconhecimento de um género no interior da filmografia bergmaniana — depois consagrado no divertido, perversamente autobiográfico, A Força do Sexo Fraco (1964) —, Uma Lição de Amor pressupõe a presença do espaço familiar como palco e ponto de fuga de todos os sobressaltos das relações humanas. A harmonia "excessiva" desta imagem diz bem da dialéctica do autor: pelo riso ou através da prova das lágrimas, a família não é exactamente o lugar a que sempre se regressa, mas sim aquele de onde, afinal, nunca se sai.