Um pequeno grande filme sobre a juventude como lugar de crise e renascimento: Temporário 12 foi uma derradeira e belíssima revelação de 2013 — este texto integrou um dossier sobre o filme, publicado no Diário de Notícias (30 Dezembro).
Ao longo das últimas duas décadas, a noção de cinema independente americano, ainda que esteticamente pertinente, tornou-se muito mais difusa no plano económico (a ponto de alguns grandes estúdios terem criado as suas próprias áreas de produção vocacionadas para o desenvolvimento de projectos “alternativos”). Em todo o caso, de vez em quando, surgem filmes que correspondem ao conceito mais primitivo de produção independente, gerando um impacto que quase parecia impossível tendo em conta os seus parcos recursos de fabricação e promoção: Temporário 12, de Destin Daniel Cretton (americano, nascido no Havai), é um desses filmes.
Para além das muitas distinções que já recebeu, mesmo no plano estritamente comercial Temporário 12 tem suscitado, no contexto americano, um singular movimento de interesse. A revista Forbes (27 de Agosto) dedicou-lhe mesmo um artigo que, para além do elogio das respectivas qualidades cinematográficas (o jornalista Mark Hughes classificava-o mesmo, na altura, como o “melhor filme” estreado em 2013), aponta a sua invulgar performance comercial, tendo em conta os seus custos irrisórios (menos de um milhão de dólares).
Embora não sendo autobiográfico, Temporário 12 inspira-se em experiências do seu realizador/argumentista. Tal como algumas das suas personagens, nomeadamente as que são interpretadas por Brie Larson [foto] e John Gallagher Jr., Cretton trabalhou como assistente de uma instituição para acolhimento de adolescentes em situação de risco, com problemas de integração familiar e social. Em boa verdade, estamos perante uma recriação “ampliada” de uma curta-metragem de Cretton, também com o título original Short Term 12: a sua passagem na edição de 2009 do Festival de Sundance acabou por criar condições para o desenvolvimento do respectivo conceito dramático, gerando esta longa-metragem, a segunda que dirigiu (a primeira, lançada em 2012, chama-se I Am Not a Hipster e aborda a cena musical de San Diego).
Tendo uma dessas instituições como cenário dominante, Temporário 12 envolve uma dupla constatação: por um lado, os traumas que os jovens exibem são necessariamente reveladores de muitas crises familiares e, em particular, da desagregação do próprio universo tradicional da família; por outro lado, vários dos assistentes transportam as memórias de situações traumáticas que também viveram, de alguma maneira revivendo através do seu trabalho as convulsões geracionais e psicológicas que marcaram a construção das suas personalidades.
Nesta perspectiva, a assistente Grace, interpretada por Brie Larson, ocupa um lugar nuclear na narrativa do filme. A descoberta da sua gravidez (revelada logo no início do filme) vai marcar todas as suas relações com o namorado (John Gallagher Jr.) e também, em particular, com a jovem Jayden (Kaitlyn Dever). Para alguns críticos e analistas de Hollywood, a densidade emocional da personagem de Grace poderá mesmo valer a Brie Larson uma nomeação para o Oscar de melhor actriz.