domingo, dezembro 01, 2013

As canções da Red + Hot Organization



Foi por ocasião de uma jornada de apelo à luta contra a sida que surgiu o primeiro disco da Red + Hot Organization. Estávamos no final de uma década que viu nascer importantes movimentos ativistas – como o Act Up – que ajudaram a combater o imobilismo da então administração Reagan face a uma doença que claramente alastrava sem o devido apoio oficial para a investigação, tratamentos e campanhas de prevenção. Já tinha havido um importante disco pensado para a recolha de fundos para ajudar a luta contra a doença e a investigação sobre o vírus VIH. Tratara-se de That’s What Friends Are For, single conjunto de Dionne Warwick com Elton John, Stevie Wonder e Gladys Knight, lançado ainda em 1985. Mas é com Red Hot + Blue que, em 1989 surge uma discografia focada na ideia de recolher fundos para este destino, gerando mesmo uma série de outras edições locais em diversos países.

Red Hot + Blue era acima de tudo um tributo às canções de Cole Porter, juntando em seu redor nomes como os U2, Tom Waits, Annie Lennox, k.d. Lang, Debbie Harry (em dueto com Iggy Pop), Erasure, David Byrne, Aztec Camera ou os Les Negresses Vertes.

Podem ler aqui um texto que aqui publicámos a 1 de dezembro de 2011:


Com Cole Porter na berlinda, uma mão cheia de músicos criaram versões de clássicos maiores da história da música norte-americana para, juntos, assinarem a primeira compilação pensada de raiz para uma campanha de recolha de fundos para programas de luta contra a sida. Não era a primeira vez que músicos se juntavam com semelhante propósito. Colecção de 20 versões de canções de Cole Porter, Red Hot + Blue não só serviu idênticos objectivos como representou o modelo de uma ideia de álbum-tributo que entretanto gerou uma multidão de descendências. Sem mais em comum senão os objectivos humanitários do disco e o facto de morarem criações de Cole Porter na base de cada canção, Red Hot + Blue reflecte essencialmente a diversidade de caminhos que a lista de convidados expressa por si mesma. Neneh Cherry encontra caminhos para I’ve Got You Under My Skin através da assimilação de elementos da cultura hip hop. David Byrne confirma o seu interesse por músicas de latitudes exteriores aos eixos pop/rock em Don’t Fence Me In. Iggy Pop junta-se a Debbie Harry para criar um hino eléctrico em Well Did You Evah. Annie Lennox atinge patamares máximos de emotividade na abordagem minimalista para voz e piano de Every Time We Say Goodbye. Os Les Negresses Vertes levam heranças parisienses a I Love Paris. Tom Waits veste muito ao seu jeito It’s All Right With Me. KD Lang é directa e pungente em So In Love. Os Erasure levam as electrónicas de travo pop a Too Darn Hot. Os U2 mostram, em Night + Day, primeiros sinais de uma transformação linguística em progresso na sua música (e da qual nasceria Achtung Baby)... Podíamos continuar a descrição passando por nomes como os de Salif Keita, Neville Brothers, Jimmy Sommerville, Aztec Camera,Sinead O’Connor ou Fine Young Canibals que, entre outros mais, completam o alinhamento do álbum. Uns mais certeiros, outros menos consequentes. Mas entre todos uma ideia comum e, no fim, um dos mais sólidos e marcantes dos discos-tributo alguma vez registados. E um primeiro episódio numa história que, depois deste, somou já muitos outros títulos a uma obra ainda hoje dedicada à mesma causa.


Red Hot + Blue lançou assim uma primeira pedra numa construção que desde então não mais parou.

1990. Red Hot + Blue. Tributo a Cole Porter com a colaboração de nomes como os de Neneh Cherry, David Byrne, U2, Iggy Pop + Debbie Harry, Thompson Twins, Tom Waits, Annie Lennox ou Salif Keita, entre outros.

1992. Red Hot + Dance. Disco de música de dança ou remisturas dançáveis por nomes como os de Madonna, George Michael, EMF, PM Dawn, Young Disciples ou Crystal Waters, entre outros.

1994. No Alternative. Um olhar pelo panorama rock alternativo de inícios de 90, com colaborações dos Sonic Youth, Soundgarden, Smashing Pumpkins, Pavement, American Music Club ou Breeders, entre outros.

1994. Red Hot + Country. Músicos da country em campanha, com contribuições de Johnny Cash, Books & Dunn + Johnny Cãs, Nancy Griffith + Jimmy Webb ou Wilco + Syd Straw, entre outros.

1994. Stolen Moments: Red Hot + Cool. Em tempo de reencontro do jazz com a música popular, um verdadeiro manifesto jazz hip hop com parcerias como Donald Byrd + Guru e Ronny Jordan, MC Solaar + Don Cárter, Me’Shell + Herbie Hancock ou Roots + Roy Ayers, entre outras.

1995. Red Hot + Bothered. Um Segundo olhar sobre o panorama rock alternativo de 90 com Lisa Germano, The Verlaines, The Sea And Cake, Liquorice e Flying Nuns, entre outros.

1996. Offbeat. Uma experiência spoken word com ambientes e trip hop, juntando Moby, Laika, My Bloody Valentine + Skylab, David Byrne, Barry Adamson e Soul Coughing, entre outros.

1996. America Is Dying Slowly. Artistas hip hop em campanha, com contribuições de De La Soul, Coolio, Pete Rock + The Lost Boyz ou Wu Tang Clan, entre outros.

1996. Red Hot + Rio. Um tributo à bossa nova, com as participações de Money Mark, Astrud Gilberto + George Michael, David Byrne + Marisa Monte, Everything But Thre Girl ou Cesária Évora + Caetano Veloso + Ryuichi Sakamoto, entre outros.

1997. Silencio = Muerte: Red Hot + Latin. Músicos latino-americanos em campanha, cm contribuições de Los Lobos, Café Tacuba + David Byrne, Juan Perro, Cibo Matto, Gegy Tah + King Changó, entre outros.

1998. Onda Sonora: Red Hot + Lisbon. Um tributo à lusofonia, com participações de David Byrne + Caetano Veloso, General D + Funk’N’Lata, k.d. lang, Paulo Bragança + Carlos Maria Trindade, Durutti Column e Bonga + Marisa Monte + Carlinhos Brown, entre outros.

1998. Red Hot + Rhapzody. Tributo a George Gershwin, com a colaboração de nomes como os de David Bowie, Morcheeba, Luscoius Jackson, Sarah Cracknell + Kid Loco, ou Money Mark, entre outros.

2000. Red Hot + Indigo. Tributo a Duke Ellington, com a colaboração de nomes como os de Terry Callier, Tortoise, The Roots, Les Nubiens e David Byrne, entre outros.

2002. Red Hot + Riot. Tributo a Fela Kuti, com a participação de D’Angelo, Jorge Ben Jor, Macy Gray, Femi Kuti, Nile Rodgers, Taj maha, Lenine, Manu Dibango, Me’Shell, Baaba Maal e Kelis, entre outros.

2009. Dark Was The Night. Sob produção conjunta de Bryce e Aaron Desner dos The National, um conjunto de contribuições vindas de terreno indie, com nomes como os Arcade Fire, Grizzly Bear, Sufjan Stevens, Yo La Tengo, Beirut, Dirty Projecters, Feist ou o Kronos Quartet.

2011. Red Hot + Rio 2. Segunda incursão brasileira, desta vez com as contribuições de Vanessa da Mata, Seu Jorg, Almaz, David Byrne, Bebel Gilberto, Marisa Monte, Caetano Veloso, Beck, Mia Doi Todd e John Legend.

2013. Red Hot + Fela. Um segundo tributo a Fela Kuti junta desta vez TUnE-yArDs, ?uestlove, Angelique Kidjo, Kyp Malone, Tunde Adebimpe, Kronos Quartet, Tony Allen, M1 ou Baloji.