terça-feira, novembro 19, 2013

Novas edições:
Agnes Obel, Aventine

Agnes Obel
“Aventine”
PIAS / Edel
4 / 5

É dinamarquesa e cresceu numa casa em que um pai colecionava instrumentos (tinham xilofones, contrabaixos) e uma mãe tocava, ao piano, peças de Chopin e Bartók. Estudou piano, teve um breve papel num dos primeiros filmes de Thomas Vinterberg, tocou em bandas, trabalhou num estúdio de gravação e desde 2005 encontrou em Berlim um ambiente de trabalho que lhe pareceu mais estimulante que o de Copenhaga. Aos 31 anos apresentou-se finalmente em disco em nome próprio com Philharmonics, que cativou os dinamarqueses e criou primeiras ressonâncias para lá daquelas fronteiras. Aventine, o seu segundo álbum, parte onde esse primeiro disco a deixou e leva-a ainda mais longe. O disco abre ao som de Chrord Left, um tema instrumental iluminado por ecos da memória da música de Erik Satie. E transporta-nos depois para uma sucessão de canções breves e delicadas, onde a voz tem no piano o seu principal parceiro, os arranjos abrindo depois discretos espaços que acolhem as presenças de cordas. Sem procurar necessariamente as heranças diretas dos caminhos definidos na obra de uma Kate Bush ou Tori Amos (se bem que caminhem em sintonia), em Agnes Obel sentimos tanto a presença dos ensinamentos de uma formação clássica (atenta aos impressionistas da alvorada do século XX) como aos caminhos de maior simplicidade melodista escutados na tradição folk. Pessoais, as letras sublinham o tom melancólico, mas nunca opressivo nem assombrado, que domina todo o disco. Aventine é uma expressão clara de um relacionamento de uma criadora com o piano, mas com vontade de não se fechar no espaço da música instrumental. Imaginemos um recital que esquece as barreiras entre os mundos que os géneros tantas vezes gostam de dividir, e escutemos entre as suas canções um espaço de diálogo que não pede a pés juntos que identifiquemos os jogos de raízes e cruzamentos que ali acontecem. Bem tocado, as composições sugerindo uma noção de espaço que a voz ocupa sem apagar as respirações dos silêncios, Aventine junta-se ao álbum deste ano de Alela Diane para reafirmar que o espaço da canção no feminino continua vibrante e conta com novas vozes para dar continuidade e uma velha tradição (e sem sabor a mofo). Os media anglo-saxónicos, na sua tradição de não gostar lá muito destas intrusões vindas de fora (até que sejam inevitáveis ou virem coiusa, ainda não lhe prestaram a devida atenção. Mas está na hora de a ouvirmos.