quinta-feira, novembro 14, 2013

John Tavener (1944-2013)


Este texto é uma versão editada de um outro que foi originalmente publicado no obituário de John Tavener (1944-2013) que foi publicado na edição de 13 de novembro do DN.

Em 2001 John Tavener juntava o Brodsky Quartet e a voz "crua", com um som "primordial" como dizia, da islandesa Björk para criar Prayer of The Heart, revelando uma das primeiras-obras primas da música do século XXI. Era contudo antiga a sua relação com os espaços menos canónicos da música erudita, tendo de resto sido um dos primeiros a gravar pela Apple Records, a editora lançada em finais dos anos 60 pelos Beatles. Aos 69 anos, o compositor, que padecia de uma saúde frágil desde muito cedo, morreu na sua casa, na região de Dorset (Reino Unido).

Sobretudo interessado na música coral e religiosa (incluindo a sua obra também importantes criações para orquestra), John Tavener integrava juntamente com figuras como Arvo Pärt ou Henryk Gorécki um espaço que por vezes chegou a ser descrito como "minimalismo religoso". A sua obra transcendia contudo algumas das marcas formais mais evidentes desse universo, refletindo acima de tudo um interesse profundo pela exploração da voz e traduzindo uma reconhecida espiritualidade e ainda um raro sentido ecuménico que refletiu ecos diretos de uma relação com várias religiões (tendo contudo vivido uma particularmente longa ligação com a Igreja Ortodoxa russa). O hinduismo, o islão, o pensamento do místico Frithjof Schuon, marcaram os seus interesses nos anos mais recentes, numa altura em que a sua música passou a refletir também a presença de elementos que transcendiam o universo da música clássica ocidental.

Natural de Londres, onde chegou a ser aluno de John Rutter, John Tavener afirmava ser descendente do compositor renascentista John Taverner (1490-1545). O mundo da música descobriu-o em 1968 através da cantata The Whale, baseada na história de Jonas e da baleia. Estreada no Queen Elizabeth Hall pela London Sinfonietta, dirigida por David Atherton, e novamente apresentada no ano seguinte num dos programas dos "proms", The Whale surgiria em disco em 1971 pela Apple Records. O disco seria assim a primeira edição de obras por si compostas, encetando uma discografia que incluiria depois gravações de títulos como The Protecting Veil (de 1992 - talvez a sua obra maior para orquestra), Akathist Of Thanksgiving (1994) ou The Veil Of The Temple (2004), tendo conhecido importante visibilidade a antologia A Portrait, editada em 2004 pela Naxos onde era estreada a gravação de Prayer Of The Heart, a peça composta para a voz de Björk, uma confessa admiradora do seu trabalho. O álbum de 1995 Innocent (Sony Classical), que juntava a English Chamber Orchestra, o coro de Westminster e alguns solistas, inclui uma interpretação de The Lamb, uma das suas obras mais célebres.

Um dos gerandes compositores britânicos do final do século XX (e início do século XXI), John Tavener começou por partir de ecos da música de Stravinsky e Messiaen para encontrar um caminho que procurava uma outra noção de espaço, refletindo também (como em Messiaen) a sua reconhecida espiritualidade.

Além do momento vivido quando lançou The Whale pela editora dos Beatles, a sua vida profissional conheceu importantes episódios de maior mediatismo quado interpretou Song For Athene no funeral da princesa Diana, quando foi nomeado para o Mercury Prize (dominado por nomes da pop) em 1992 e 97, quando apresentou A New Beginning em 1999, no Millenium Dome ou, mais recentemente, quando Terrence Malick usou o seu Funeral Canticle numa sequência do maravilhoso A Árvore da Vida. A sua última obra, Three Shakespeare Sonnets, conhecerá estreia esta sexta-feira na Catedral de Southwark.


Imagens de algumas capas de edições marcantes da discografia de John Tavener.

E aqui podem ver um excerto de uma interpretação ao vivo do sublime The Protecting Veil.