terça-feira, outubro 22, 2013

Novas edições: Darkside, Psychic

Darkside 
“Psychic” 
Other People / Popstock 
4 / 5 

Revelado discograficamente com um dos melhores álbuns de música eletrónica que escutámos em 2011, o norte-americano (de berço chileno) Nicolas Jaar começou a desenvolver pouco depois da edição de Space Is Only Noise o projeto Darkside com o guitarrista Dave Harrington, mostrando logo no Darkside EP os primeiros sinais de uma demanda que ganha expressão maior no álbum que agora apresentam. Um primeiro percurso entre os caminhos que o disco coloca pela nossa frente evoca desde logo uma referência que o próprio nome do projeto sugere. Trata-se de Dark Side of The Moon, peça fulcral da discografia dos Pink Floyd e espaço claramente na raiz dos diálogos entre a guitarra e as cenografias eletrónicas que habitam o alinhamento de Psychic. Estamos por isso para lá dos espaços de exploração das periferias do techno e das suas relações tanto com o silêncio como com ecos de heranças vocais mais próximas do R&B a que aludia o álbum de Jaar editado a solo, bem como não foca apenas atenções nas assimilações de linguagens funk que o EP de 2011 já visitara (havendo porém em The Only Shrine I've Seen um belo exercício nesse comprimento de onda). Psychic na verdade transporta as eletrónicas de Nicolas Jaar para um terreno mais contemplativo, mais elaborado que minimalista, atento do detalhe e cuidado na construção de cenografias onde apenas ocasionalmente a voz ganha maior protagonismo. O disco confronta-nos com aquilo que podemos ver como uma demanda de soluções próximas do que recordamos dos tempos do progressivo, porém com as eletrónicas de Jaar com maior peso no edifício sonoro que a (mesmo assim muito evidente) guitarra de Harrington. Psychic é um daqueles momentos em quem a pulsão experimental de dois músicos gera um diálogo verdadeiramente coerente e consequente. Verdadeira viagem de sensações estimuladas pelo som, propõe um percurso entre ambientes escuros, intrigantes. Concilia a experimentação e a busca de novos horizontes com inesperados sentidos de familiaridade (sobretudo os que as referências prog acabam por lançar). E acaba por ser um dos títulos mais estimulantes que as eletrónicas nos deram a ouvir em 2013. Não é o monumento que os The Knife colocaram em cena com o genial Shaking The Habitual. Mas mostra, como o passado o fizeram nomes como Aphex Twin ou The Orb, como da música de dança podemos partir em busca de outros caminhos e outros patamares de perceção.