segunda-feira, outubro 07, 2013

Entre cinco discos históricos de Scott Walker (1)

Começou a carreira como 'teen idol' nos anos 50 e cinco décadas depois é um dos mais respeitados experimentadores para lá das fronteiras dos géneros musicais. Apesar da forma como têm sido aclamados os seus discos mais recentes, é num conjunto de cinco álbuns editados entre 1967 e 1970 que encontramos a essência de uma personalidade criada por um músico de génio que, todavia, guardou sempre para si quem afinal ele é. Este texto foi originalmente publicado no suplemento Q. do Diário de Notícias com o título ‘Scott Walker: Cinco discos para redescobrir um mito’.

Chegaram a apontá-lo como o próximo Frank Sinatra. Deu, como mais ninguém, vida às canções de Jacques Brel para lá da língua francesa, levando-as a novos públicos (e outras gerações). Tem Marc Almond, Julian Cope ou Neil Hannon (dos Divine Comedy) entre as suas mais evidentes descendências. E, caso único na história da música, é exemplo de uma carreira iniciada como teen idol, evoluindo a cada passo até aos terrenos de uma música mais experimental, nas vanguardas das formas e para lá das regras e fronteiras dos géneros musicais, tal e qual os seus discos mais recentes têm mostrado. Mas por muitas paixões que discos mais recentes como Tilt (1995) ou The Drift (2006) tenham levantado ou por maiores que sejam os feitos pop que alcançou com os Walker Brothers com canções como No Regrets ou Nite Flights, a verdade é que reside num conjunto de cinco álbuns editados entre 1967 e 1970 a raiz do estatuto mítico que faz de Scott Walker um dos maiores criadores da música popular da segunda metade do século XX.

Nos últimos 30 anos a discografia de Scott Walker somou apenas quatro álbuns. E mesmo tendo o mais recente Bish Bosh (de 2012) surgido “apenas” seis anos após The Drift, a sua obra a solo posterior ao reencontro dos Walker Brothers na segunda metade dos anos 70 contou apenas com um título nos anos 80 (Climate of Hunter, em 1984) e um outro nos anos 90 (Tilt, em 1995)... Contudo, a chegada de cada novo disco seu anuncia-se sempre como um acontecimento maior, lançando expectativas e dividindo opiniões. E mesmo sendo a sua obra atual um caso notável de uma capacidade de visão para lá das normas e modas do nosso tempo (mais próxima até de uma lógica da música contemporânea erudita que da música popular), a verdade é que não podemos nunca dissociar a sua voz e a própria menção do seu nome daqueles cinco discos de finais dos sessentas, três deles – Scott 2, Scott 3 e Scott 4 representando mesmo um daqueles raros casos de sucessão consecutiva de discos excepcionais como só as discografias de nomes como os Beatles, Kraftwerk, David Bowie ou Prince conseguiram alcançar (na verdade há um álbum editado entre 'Scott 3' e 'Scott 4'. Trata-se de 'Scott Walker Sings Songs From His TV Series', uma compilação com versões de canções que o músico cantou no programa que então teve na BBC. O disco foi descatalogado porco depois e nunca foi reeditado.).

Norte-americano, natural do Ohio (nasceu em Hamilton em 1943), Scott editou os seus primeiros discos em finais dos anos 50. Moldado segundo as normas dos teen idols da época, estreou-se como Scott Engel (o seu verdadeiro nome é Noel Scott Engel) em 1957 com o single When is a Boy a Man. Sem se afastar muito desses terrenos de uma pop ligeira para consumo dos adolescentes da época, continuou a gravar ora a solo ora através de bandas como os Moongoers, The Chosen Few, The Newporters e The Dalton Brothers antes de, em 1964, se juntar a John Maus e Gary Leeds para com eles formar os Walker Brothers que lhe dariam um estatuto de grande popularidade.

(continua)

Aproveitamos esta semana, em que aqui recordamos memórias da obra marcante de Scott Walker entre 1967 e 1970 para recordar algumas das suas atuações televisivas. Estas imagens correspondem à sua estreia a solo (como Scott Walker) em 1967, num programa apresentado por Dusty Springfield. Scott Walker canta aqui Mathilde, um dos três temas de Jacques Brel que incluiu em Scott, o álbum que lançou nesse mesmo ano.