terça-feira, outubro 22, 2013

Deneuve, aliás, Dorléac

Egoísmo, se me permitem. Neste dia em que Catherine Fabienne Dorléac faz 70 anos, atrevo-me a recordar uma memória pessoal, de quando a entrevistei no Hotel Lutetia, em Paris, meados de 1995 (pouco antes da estreia portuguesa de O Convento, de Manuel de Oliveira). Falando sobre aquele que é, para todos os efeitos, o seu nome artístico — Catherine Deneuve —, não pude deixar de lhe perguntar como encarava o facto de ter mudado de apelido.
Começou por citar os episódios dessa escolha: a rodagem de Les Portes Claquent (1960), de Jacques Poitrenaud; o facto de contracenar com a irmã, François Dorléac; e a "necessidade" de encontrar um outro apelido para figurar na ficha artística do filme, acabando por optar por Deneuve, apelido de solteira da mãe — isto depois de, em 1957, ter já participado em Les Collégiennes, de André Hunebelle, como Catherine Dorléac.
Podia ser uma tese psicanalítica ou, mais exactamente, a génese de um belo melodrama. Em todo o caso, o que mais me impressionou na serenidade da evocação foi o remate com que a actriz fez o balanço da história do seu nome: "Sei que me chamo Dorléac." Quando Buñuel a convoca para jogar ténis, creio mesmo que é Mademoiselle Dorléac que está em cena.