O quarto dia do Queer Lisboa permite não só um reencontro com Continental,. o filme de abertura do festival, como com Free Fall, exibido na noite de sábado. Entre as novidades do dia conta-se o filme polaco Floating Skyscrapers, sobre o qual podem ler aqui.
Podem encontrar depois aqui toda a programação para hoje.
Já a seguir fica um destaque para uma outra das sessões de hoje com um texto de minha autoria que integra o catálogo do festival (e a sua expressão online).
She Said Boom - The Story of Fifth Column
(Sala 3, 21.30)
Há artistas que, mesmo tendo desempenhado um papel pioneiro em algumas regiões da música popular, acabam por vezes arrumados (com algum injusto esquecimento) num mundo distante de memórias menos revisitadas. E há depois aqueles instantes em que tudo muda. She Said Boom: The Story of Fifth Colunmn, de Kevin Hegge, pode ser o gatilho que faltava para a redescoberta das Fifth Column, um all-girl band canadiana nascida em inícios dos anos 80 em clima pós-punk que não só precedeu (e decididamente influenciou) o movimento riot grrrl e ajudou a definir primeiras linhas do movimento queercore, como representou uma das mais visionárias forças de uma cultura alternativa canadiana da qual emergiria também a figura do realizador Bruce LaBruce (que, de resto, foi importante colaborador da banda, actuando a dada altura como go-go dancer nos seus concertos, numa altura em que era estudante de cinema).
Uma banda feita de raparigas era, por si só, uma posição política na Toronto de 1980. E é do choque de culturas, da busca de uma visão pessoal de uma noção de feminismo, da construção de um discurso sobre sexualidade e género, de uma abordagem ao artifício enquanto ferramenta estética, que nasce a identidade de uma banda cuja obra transcendeu os palcos, cruzando-se inclusivamente com expressões pioneiras de um novo (e radical) cinema queer.
O filme parte de uma série de entrevistas com elementos da banda, de colaboradores (como LaBruce) ou admiradoras (como Daryl Hannah, das Bikini Kill), junta imagens recentes e de arquivo de actuações, dos filmes e dos espaços que viveram para, mais que uma biografia musical, da cena queer da cidade onde nasceu a banda ou da própria expressão das consequências da revolução punk no Canadá, nos dar um retrato de um espaço de rebelião habitado com o mesmo irresistível sentido de humor e rebeldia que sempre animou as Fifth Column.