Foto: Rodrigo Esper / I Hate Flash |
Com uma plateia inteira a cantar de cor o que escutava no palco, a homenagem a Cazuza foi um dos momentos maiores do arranque desta edição do Rock In Rio e pode bem ter sido um dos instantes mais inesquecíveis deste festival. Uma verdadeira constelação de estrelas da música local juntou-se para celebrar a memória das canções do músico que se tornou um ícone maior que marcou como poucos a história do mapa pop rock brasileiro e em particular os momentos de grande revolução no panorama musical que aqui se viveram nos anos 80 e que morreu em 1990, de complicações do vírus VIH. Maria Gadú, Bebel Gilberto, Marco Tulio, Jota Quest, Ney Matogrosso ou Roberto Frejat (parceiro de Cazuza nos Barão Vermelho) revisitaram canções, muitas delas ressoando com situações do presente. De resto, ao cantar ‘Ideologia’, Jota Quest frisou que, com Cazuza, “a canção de protesto no Brasil não envelhece nunca”. Mais adiante, Frejat, que deixou claro que não sabe fazer futurologia, admitiu que não imaginaria o que o seu velho amigo faria hoje em dia. “Mas ia estar adorando ver esse povo na rua nas manifestações” disse perante um aplauso geral da multidão, antes de convocar todos os músicos ao palco para fechar a homenagem ao som de ‘Pro Dia Nascer Feliz’.
“É muito justo fazer esta homenagem a Cazuza e é muito bom que seja feita entre amigos” confessara no seu camarim Ney Matogrosso, alguns minutos antes do concerto. O músico deixou claro que esta homenagem não foi ideia sua, revelando que lhe foi pedido que cantasse três canções. Assim foi, tendo interpretado belíssimas versões de ‘O Tempo Não Para’, ‘Brasil’ (o grande instante da noite) e, apenas com voz e piano, ‘Codinome Beija Flor’, tema que chegou mesmo a gravar.
Ney Matogrosso lembra Cazuza como “uma figura muito marcante numa altura em que houve um movimento rock no Brasil”. Destacou a sua dedicação ao trabalho. E “era muito o dedo na ferida. Era muito direto no que dizia, não tinha floreados”, recordou, apontando-o como “um dos grandes pensadores daquele momento da história” do país. A sua obra, disse ainda Ney, “refletia muito o mundo” e, fazendo a ponte com os nossos tempos, ressalva que “até hoje o que ele fez continua ainda muito atual”. E, de olhar atento acrescenta: “ infelizmente”.
A música de Cazuza refletia o poeta, mas também o homem de ideias que Ney assim descreve. E a sua obra faz pensar sobre uma visão da música como um ser interventivo e consequente. “A música é um veículo muito bom para se perder só pela diversão”, reflete ainda Ney, que contudo deixa claro: “Mas nada contra a diversão”.
Podem ver aqui um excerto da atuação de Ney Matogrosso
Mais três olhares pela Cidade do Rock
Fotos: N.G. |