The Weeknd
“Kiss Land”
XO / Universal
3 / 5
Dividiu opiniões, o que não seria de estanhar perante uma proposta bem longe de ortodoxa criada num espaço de encontro entre o R&B e a cultura hip hop, com vistas largas e horizontes abertos a outras descobertas. O certo é que depois de ter lançado três álbuns (ou mixtapes, se preferirem) “à borla” na Internet, Abel Tesfaye – musicalmente conhecido como The Weeknd – acabou transformado num dos mais falados entre os novos grandes fenómenos nascidos nos últimos tempos. Fenómenos definidos sob heranças da cultura R&B, que nos últimos anos nos deram a descobrir figuras tão ilustres e distintas como Miguel, Frank Ocean, James Blake ou Jamie Woon. Talvez mais aclamado em terreno indie que entre os mais firmes seguidores dos caminhos do R&B, o projeto The Weeknd cativou contudo atenções ao ponto de ter visto a sua carreira (e estratégia editorial) ter tomado um novo rumo com a assinatura por uma grande editora que, antes mesmo de apostar na novidade, juntou os três álbuns que o haviam dado a conhecer sob uma caixa comum, chamando-lhe Trilogy e dando-lhe assim a existência em suportes físicos que ainda não havia conhecido. Agora chegou a hora do passo em frente, representando Kiss Land o primeiro disco que cria sob este acordo editorial. E não são precisas muitas audições para sentirmos que algo mudou, sobretudo nas qualidades técnicas e no volume da artilharia à disposição da produção. Mantendo firme uma postura vocal de genética soul e uma atitude instrumental aberta a contactos em várias frentes, Kiss Land é contudo um álbum mais polido nas formas e mais focado na hora de pensar destinos para a música. Mais trabalhado, revelando citações e referências que passam dos Portishead ao velho êxito eurodisco dos Fox The Fox (Precious Little Diamonds), Kiss Land não rompe com as ideias que haviam defindo os três álbuns de apresentação, optando contudo por conduzir sob trilhos mais bem definidos a evolução das composições e a própria atitude instrumental. Longe do deslumbramento que chegou com a estreia de Frank Ocean ou a rara excelência do segundo álbum de Miguel, Kiss Land reafirma mesmo assim em Abel Tesfaye uma voz criativa central num panorama R&B a viver uma etapa de muitas ideias, bons discos e o merecido reconhecimento. Não esperem revoluções. Mas estão garantidas aqui algumas belas canções.