Barbarossa
“Bloodlines”
Memphis Industries / Popstock
4 / 5
O nome do projeto não tem muito a esconder, uma vez que refere exatamente o facto do londrino James Mathé ser ruivo e ter... barba (não vale a pena por isso rumar atrás no tempo para recordar a operação alemã que, com esse nome, projetou a invasão da URSS durante a II Guerra Mundial ou outros episódios ou figuras do mundo dos factos ou das ficções). Barbarossa é assim o nome pelo qual se apresenta este músico que em tempos acompanhou José Gonzales e que já teve o trabalho com guitarras em lugar de maior destaque na sua agenda de atenções. Bloodlines, o disco que agora assinala a sua estreia no catálogo da Memphis Industries é um pequeno bouquet de canções pop essencialmente talhadas ao som de teclados analógicos e feitas de tranquilos diálogos com uma voz que, ocasionalmente, recorda um gosto vintage pelo recurso ao dedilhar das guitarras, sobretudo ao som de baladas como Battles, The Endgame ou Saviour Self. A presença dos registos deste tipo de teclados e as formas eletro pop que revisita no mais festivo Paglacci podem levar opiniões feitas de audições mais à queima-roupa fazer parecer que se trata de mais um episódio de evocação de heranças dos oitentas. Na verdade estamos contudo mais perto dos terrenos para cantautores europeus do nosso tempo como Peter Van Poehl ou Maximilian Hecker, o disco acabando por definir traços de uma alma melancólica que uma voz frágil e um evidente gosto pela contenção e pela placidez a música ajuda depois a sublinhar. Sem uma agenda revolucionaria (nem nos sons nem nas palavras), Bloodlines é contudo um belíssimo momento de tranquilidade em regime pop. Simples, sem verdades escondidas, sem surpresas a cada esquina, sugerindo rapidamente um sentido de familiaridade que conforta e pede reencontros. Porque nem só daqueles discos que fazem os episódios maiores da história vive um ano discográfico, as canções novas de James Mathé são mesmo uma das boas surpresas deste final de verão.