sexta-feira, setembro 06, 2013

Como falar das memórias de Auschwitz (5)

Fotos: N.G.
Continuamos a publicação de um texto sobre o Museu de Auschwitz-Bierkenau, que visitei recentemente e que foi originalmente publicado no suplemento Q. do DN sob o título ‘Como dar vida às memórias num antigo campo de morte’.

Em 2010 o campo recebeu um número recorde de visitantes na ordem dos 1,43 milhões, 72 por cento dos quais jovens. Os polacos respeitam a maior fatia de visitantes, com 446 300 pessoas em 2012, o que corresponde a 31 por cento do total. Por nacionalidades os maiores grupos de visitantes estrangeiros chegaram do Reino Unido (142 200), Estados Enidos (96 900), Itália (84 500), Alemanha (74 500) e Israel (68 000). De Portugal chegaram 10 200 visitantes a Auschwitz no ano passado.

Segundo um levantamento efetuado pelo departamento educativo do museu, a maioria dos visitantes chegam ali com o conhecimento da história do campo como a principal razão pela visita (33,2 por cento). Outras razões levantadas são a memória das vítimas (19,6%), a vontade de prestar homenagem aos que ali morreram (13,7%) ou a simples curiosidade (12,6%). Cerca de 1,2 por cento visitam o campo por motivos religiosos, igual quantidade fazendo-o em busca da identidade das suas próprias raízes (17).

Há trabalhos a decorrer nos arquivos, não apenas na sua manutenção e restauro, mas na contínua recolha de objetos (muitas vezes através de familiares de antigos prisioneiros) e na inventariação exaustiva dos materiais. Em 2012, por exemplo, foi feito um catálogo de centenas de objetos ligados à guarnição das SS em Auschwitz.

A digitalização de materiais do arquivo e um dos trabalhos continuados do museu. O digital repository somava já, em finais do ano passado, mais de um milhão de entradas. As mais recentes adições representam documentos ligados ao campo cigano, ficheiros pessoais dos prisioneiros soviéticos e também aos movimentos de resistência que foram nascendo no campo.

Os números das colecções são impressionantes. 110 000 sapatos, 3800 malas (2100 das quais com os nomes dos seus donos), mais de 12 000 pratos e panelas, 470 próteses, 350 uniformes usados pelos prisioneiros (conhecidos como as “riscas”), duas toneladas de cabelo cortado a mulheres deportadas e cerca de 5500 obras de arte, duas mil das quais criadas por prisioneiros.

Já o arquivo tem cerca de 250 metros de prateleiras com documentos arquivados. Estão ali, entre outros, 39 mil negativos de fotografias de prisioneiros recém-chegados, cópias de 200 fotos tiradas por elementos das SS em Birkenau durante a deportação dos judeus húngaros em 1944, outras tiradas ilegalmente por elementos dos sonderkommando nas imediações dos crematórios em Birkenau, 2500 fotos de família levadas por deportados, 500 fotos do campo tiradas no tempo em que esteve ativo.

Uma das principais funções do museu está focada no relacionamento com os seus antigos prisioneiros. Os arquivos procuram juntar toda a informação possível sobre quem ali passou. E mediante carta ou email, há funcionários preparados para responder – de acordo com os registos disponíveis – a quem procura informação sobre os que ali estiveram detidos.

O museu apoia, acompanha e acolhe vários projetos de investigação, muitos dos quais geraram entretanto publicações lançadas em edição própria, como é o caso de um percurso histórico da vida no campo assinado ainda nos anos 50 por Danuta Cezch. Nos últimos anos o museu apoiou e acompanhou investigações históricas visando o cálculo do número de mortos no campo, relatórios das fugas, a história dos movimentos de resistência que ali eclodiram e nas suas periferias, a análise das propriedades das vítimas, as experiências médicas que ali aconteceram, os destinos de vários grupos de detidos e os percursos biográficos de algumas das vítimas. O resultado de muitos dos trabalhos de investigação em Auschwitz está reunido em Auschwitz 1940-1945: central Issues in the History of the Camp, extenso retrato publicado em cinco volumes.

17 Números oficiais apresentados nas páginas do 'Sprawozdanie Report' de 2012