Fotos: N.G. |
[ Parte 1 ] [ Parte 2 ] [ Parte 3 ]
No Bloco 27 abriu, no passado mês de junho, uma exposição diferente, que contudo acrescenta uma outra leitura ao que a visita nos proporciona, valendo-se sobretudo de imagens e de sons. Sob o título SHOAH in Block 27 at the Auschwitz-Birkenau State Museum, a exposição nasceu de uma parceria entre o Museu de Auscwitz-Birkenau e o Yad Vasehm (13). Numa primeira sala começamos por recordar a vida. A vida de comunidades judaicas por toda a Europa, antes da guerra, em filmes que mostram cenas do quotidiano, projetadas por todas as paredes à nossa volta. Entramos depois numa outra divisão, dominada por uma fila de ecrãs suspensos do teto e por baterias de altifalantes, aos pares, ao seu lado. E ali vemos e ouvimos figuras da hierarquia nazi, como Hitler ou Göring, em discursos que deixam clara a ideologia antissemita que estaria pouco depois na base da “solução final”. Logo a seguir uma terceira sala mostra-nos duas fotos. Numa delas um instantâneo da chegada de húngaros a Birkenau em 1944 já aqui recordada. Na parede oposta, um olhar sobre o campo nos dias de hoje. E na grande parede que as duas outras une está um gigantesco mapa da Europa, onde se assinalam todos os locais onde o Holocausto aconteceu, dos Einsatzgruppen (14) na Ucrânia aos campos da morte na Polónia... Relatos de sobreviventes, em vídeo, ocupam a sala seguinte antes de uma outra onde, a um metro do chão, representações de desenhos de crianças de Theresienstadt (15) recordam os mais pequenos que ali depois morreram. No final do percurso, um gigantesco livro, do tamanho de uma sala, junta os nomes de todos os que morreram.
“Esta é uma exposição muito importante para nós”, explica Andrezej Kacorzyk, da direção do museu (16). “Fisicamente está localizada entre as exposições nacionais. Fala dos judeus durante a segunda guerra mas não apenas de Auschwitz, referindo outros campos e locais onde pessoas foram mortas”, acrescenta, admitindo que a vê como parte da exposição principal que se pode visitar nos blocos 4, 5, 6 e 11. “Não é uma exposição de dados, mas antes mais emocional. Que faz pensar no que está por detrás das imagens. Vemos as imagens, os filmes, ouvimos os testemunhos, as vozes das crianças. Mas pelas janelas vemos as vedações, o arame farpado, as barracas... Sabemos que estamos em Auschwitz”, sublinha. Andrezej Kacorzyk revela então que está a ser repensada a museologia de Auschwitz. Haverá um novo centro para visitantes ao lado do campo principal e um centro para a educação. Mas reconhece: “Precisamos sobretudo de uma nova exposição principal”. A que está patente, lembra o diretor, vem de 1954 e é uma das exposições mais antigas na Polónia. “Foi criada quando todos conheciam a guerra e muitos dos primeiros visitantes do museu foram mesmo sobreviventes da guerra”. Mas entretanto “passaram 60 anos” e muitos dos que ali vão hoje “não conhecem as imagens e as suas relações”.
Esta renovação é para Andrezej Kacorzyk a “missão mais importante neste momento” para o museu. A primeira parte da nova exposição surgirá em 2018, seguindo-se uma segunda em 2020 e uma terceira em 2022. A primeira vai mostrar Auschwitz como uma instituição nazi, com os seus diferentes departamentos e pessoas. A segunda apresentará Auschwitz “como um campo de morte e o Holocausto dos judeus estará no centro desta parte”. A terceira abordará o campo de concentração “do ponto de vista das vítimas e com testemunhos seus”. Entretanto, e já em 2014 vão ser reabertos os blocos 2 e 3, “que foram preservados e recuperados com fundos da União Europeia”. Estes dois blocos serão mostrados sem qualquer exposição, revelando antes como eram na sua origem. Além da recuperação dos blocos 2 e 3, o museu terminou recentemente a restauração de cinco barracas de madeira em Birkenau e tem trabalhado na preservação das ruínas das câmaras de gás e crematórios.
13 Yad Vashem – Museu dedicado à memória do Holocausto em Jerusalém (Israel).
14 Einsatzgruppen- Esquadrões de morte das SS, foram responsáveis pelas primeiras mortes em massa, por fuzilamento.
15 Theresienstadt – Campo de concentração nazi na cidade de Terezin, na atual República Checa. Muitos artistas foram ali encarcerados.
16 Frases de entrevista presencial realizada a 30 de junho deste ano, no museu de Auschwitz-Birkenau.