sexta-feira, julho 19, 2013

Reedições:
Divine, Maid in England

Divine
“Maid in England”
Cherry Pop
3 / 5


É uma das figuras de culto mais interessantes do cinema independente norte-americano dos anos 70 e 80, vestindo sobretudo papéis femininos, e afirmou-se presença-chave em alguns dos títulos mais marcantes da filmografia do realizador John Waters, do célebre clássico trash que foi Pink Flamingos (1972) ao sucesso global em Hairspray (1988), onde interpretou o papel de uma mãe. Em finais dos anos 70 Divine (de seu nome real Harris Glenn Milstead) começou a atuar em clubes como performer, começando pouco depois a integrar canções no seu número... Nascia assim uma inesperada carreira musical que, depois de uma estreia algo discreta em Born To Be Cheap (1981), ganhou personalidade, alinhada no espaço do hi-nrg, contando com a presença do marcante produtor Bobby Orlando (o mesmo que trabalharia depois com os Pet Shop Boys na primeira versão de West End Girls), com quem gravaria quatro singles entre 1982 e 83, entre os quais Native Love (Step by Step) ou Love Reaction. Um desentendimento financeiro afastou-o da ligação a Bobby Orlando, começando em 1984 a trabalhar com a equipa de produção Stock Aitken & Waterman que na altura começava também a gravar com os Dead or Alive em semelhante comprimento de onda, mas que mais tarde alcançaria sucesso global com discos de nomes como Kylie Minogue, Rick Astley ou a dupla Mel & Kim. A morte inesperada de Divine em março de 1988, pouco depois da bem sucedida estreia de Hairspray, deixou a obra musical reduzida a uma mão cheia de singles, dois álbuns de estúdio (My First Album, de 1982) e Maid In England (1988) e uma série de antologias. As canções da etapa Bobby Orlando (juntamente com o single que a antecedeu) têm feito parte do alinhamento de várias antologias lançadas já na era dos suportes digitais, o álbum Born To Be Cheap, de 1994, servindo um bom panorama dessa etapa mais ligada à essência hi-nrg da sua identidade. Maid In England, junta You Think You’re a Man e I’m So Beautiful (os dois singles que gravou com o trio Stock Aitken & Waterman, que representaram os seus maiores êxitos, assinalando uma aproximação hi-nrg à canção pop) aos imediatamente posteriores Walk Like a Man e Twistin’ The Night Away (este último uma versão de um original de Sam Cooke) e a uma série de outros inéditos menores. Apesar da ainda presente alma hi-nrg (que em 1988 havia perdido vitalidade nas pistas de dança perante a emergência da cultura house e toda uma nova dimensão alcançada pela música de dança), o álbum como um todo não repete o sentido de coesão nem o carácter marcante do disco de 1982. Maid in England representa o retrato da etapa mais pop(ular) da curta discografia de Divine. É bom que esteja agora novamente disponível com som remasterizado e três remisturas (da época) como extras. Mas para iniciados, convém espreitar um pouco mais atrás no tempo para conhecer o que de mais interessante este hilariante provocador  registou em disco.