Boards of Canada
“Tomorrow’s Harvest”
Warp Records
4 / 5
Há mais um regresso a assinalar no mapa do reencontro de músicos com os discos em 2013. Ausentes há sete anos (quando editaram o EP Trans Canada Highway), sendo que na verdade passaram quase oito desde que em 2005 apresentaram The Campfire Headphase, os Boards of Canada voltam a entrar em cena com um disco que quer acima de tudo reforçar que o caminho que vinham já a talhar é mesmo aquele que querem continuar a seguir, pela sua música passando um dos mais apaixonantes jogos de contrastes entre valores da memória (não confundir com nostalgia) e uma realidade presente talhada pelas electrónicas, o que os distingue assim de tantos outros projetos do nosso tempo. Mais focados no prazer da exploração de teclados analógicos, na experimentação de elementos adicionais gravados “in loco”, na continuada expressão de um interesse pelo valor plástico de instantes colhidos noutras fontes de som que na construção de uma ideia de linha da frente junto das vanguardas dubstep ou da reinvenção deep house (sem desprimor para quem o faz, entenda-se), os Boards of Canada estão por isso longe de militar naquela família de nomes que, como Burial, Disclosure, James Blake, Nicolas Jaar, Zomby ou John Talabot, têm azimutes centrados a invenção presente do futuro imediato que nos espera logo adiante. Pelo contrário, e reforçando o novo Tomorrow’s Harvest os valores de uma certa pax despida de geografia concreta e de marcas do momento que vivemos, continuando antes a respirar atmosferas sobretudo evocativas da música para cinema de há uns 30 anos e, de certa forma, aceitando heranças (embora sem aparente ligação próxima) de pioneiros das electrónicas dos anos 70 que, sem militar no geometrismo kraftwerkiano (escutando contudo os seus ensinamentos), assimilaram antes ecos do som progressivo para criar paisagens, acontecimentos, melodias. O quarto álbum dos irmãos Michael Sandison e Marcus Eoin não é uma afirmação de luta contra as presentes “vanguardas” (pop, entenda-se) da invenção electrónica, pontualmente expressando mesmo entendimentos com formas surgidas desde que saíram de cena em 2006. Mas acima de tudo Tomorrow’s Harvest é uma experiência de tranquila fuga aos espaços mais direcionados da música urbana, o sentido de liberdade e placidez que emana das composições sublinhando o berço rural de uma música que nasceu num espaço de trabalho que procuraram deliberadamente fora da cidade. Não se trata necessariamente de um álbum ambient, mas a verdade é que um sentido de tranquilidade domina parte substantiva de um alinhamento que sabe como partir de arquiteturas rítmicas sem nelas procurar necessariamente um destino que exija movimento físico. Mais intelectual, portanto. Ao cabo de tão longa ausência o regresso dos Boards of Canada traz-nos um disco que reafirma o lugar da dupla escocesa no panorama da música electrónica do nosso tempo. Nem sempre precisamos de revoluções.