terça-feira, julho 09, 2013

Novas edições:
Blixa Bargeld & Teho Teardo, Still Smiling

Blixa Bargeld & Teho Teardo
“Still Smiling”
Specula Records
4 / 5

2013 está a revelar-se um ano invulgarmente rico em grandes acontecimentos pelos lados dos universos de Nick Cave e seus (atuais e antigos) colaboradores. Não só o disco com os Bad Seeds lançado este ano é um dos melhores de toda a obra de Nick Cave, como Mick Harvey (que deixou o grupo recentemente) se apresentou com um belíssimo novo álbum a solo. E agora, a continuar um panorama que definitivamente fica na história deste ano, é a vez de Blixa Bargeld (também ligado aos Einstuerzende Neubaten) nos arrebatar com mais uma aventura fora de portas... As raízes de Still Smiling estão no cinema. De resto é no cinema que o italiano Teho Teardo tem somado alguns dos seus feitos mais visíveis. Fundador dos Meathead (nome com algum peso no panorama italiano dos noventas), esteve depois na estrada com os Placebo e mais recentemente criou um álbum baseado na poesia de Pasolini. Começou também a trabalhar em música para cinema, ganhando sobretudo notoriedade neste campo com a banda sonora de Il Divo, de Paolo Sorrentino. Foi num trabalho para cinema que Teho encetou a sua colaboração com Blixa Bargeld. E de A Quiet Life (do filme Una Vita Tranquila, de Claudio Cupellini), que resultou desse primeiro episódio de colaboração, uma canção de travo clássico, com alma melancólica ao jeito de um Cohen mas sob uma orquestração “cinematográfica” onde de destaca a presença de um violoncelo, surgiu a vontade de fazer mais... E dois anos depois, entre viagens de Roma para Berlim, dali também para São Francisco, compondo e gravando o algum que entretanto ganhou forma e os apresenta sob um título comum. Still Smiling, tal como o mais recente Push The Sky Away, de Nick Cave, é um disco de canções profundamente marcadas pelas noções de espaço e por uma certa dimensão sinfonista característica da música orquestral para cinema. Estamos por isso num terreno familiar para Teho Teardo, mas igualmente longe de representar um espaço alienígena para Blixa Bargeld, mesmo estando a presença da guitarra longe do protagonismo que essa mesma relação lhe dá nos Bad Seeds. As canções são pequenos mundos de sedutora estranheza, de intrigante melancolia, mais de sombras que de luzes, mais de delicada tensão que real tranquilidade... Ali se cruzam o italiano, o alemão, o inglês... Eletricidade (em gastos de poupança, electrónicas dedicadas ao desenho dos espaços, instantes de construção de sonoplastia (como em Defenestrazioni) e a presença clara de arranjos orquestrais abraçam as vozes, definindo um ciclo de canções com a coerência e solidez de uma ideia que soube definir um caminho e por ele seguir de fio a pavio. Algo fora das rotas da atenção do momento, Still Smiling pode correr o risco de passar a leste... Convém contudo não ignorar mais um belíssimo exemplo de trabalho de escrita de canções que transcende os espaços “tradicionais” da vivência pop/rock e procura outros horizontes. Mais clássicos...