terça-feira, julho 02, 2013

Julia Kristeva: masculino/feminino

>>> [...] Porém, esta viragem na coexistência dos dois sexos elabora-se essencialmente através do conhecimento e do respeito da bissexualidade psíquica de cada um: feminino e masculino do homem, masculino e feminino da mulher — o casal moderno que dura é um ménage à quatre.

É, por assim dizer, uma antologia de discreta mas incisiva auto-pedagogia, individualista e partilhável: com a colaboração de Marie-Christine Navarro (responsável pelo prefácio e pela entrevista com a autora que abre o livro), Julia Kristeva revisita momentos emblemáticos da sua escrita, visando aquilo que Navarro, lembrando todas as "ondas de choque" do 11 de Setembro, designa como um "para além da guerra dos sexos". Desembocando num texto da Universidade Europeia de Verão, de 2006, exemplarmente intitulado 'Guerra e paz dos sexos', Seul une Femme (Éditions de l'Aube, reedição, 2013) explora o infinito jogo de espelhos desenhado pela palavra seul: no sentido de "singular, única, sem igual", reagindo contra os efeitos da massificação e da globalização; e também remetando para a "solidão" experimentada por uma mulher "quando ela assume o risco da sua singularidade, que é muito simplesmente o risco da liberdade". Curiosamente, a primeira parte do livro, intitulada "Au jour le jour", reúne crónicas publicadas no período 1988-90 na revista Femme — a provar, afinal, que o radicalismo da escrita de Kristeva não se esgota em nenhuma deriva "universitária", valorizando os espaços comuns (não necessariamente lugares-comuns) da experiência social, da intervenção jornalística e do consumo da informação.

>>> Site oficial de Julia Kristeva.