quinta-feira, julho 11, 2013

Discos Pe(r)didos:
Steven Brown, Half Out

Steven Brown
“Half Out”
Les Disques du Crepuscule
(1991)

Entre os episódios “ilustres” de relacionamento do nosso país com discos de nomes de referência do panorama “alternativo” internacional contam-se, por exemplo, o clássico Amigos em Portugal dos Durutti Column (originalmente editado em 1983 pela Fundação Atlântica), um mais recente registo de um concerto lisboeta de Lisa Germano (entre as faixas de um CD extra de uma reedição de Lullaby For Liquid Pig), um concerto lisboeta de Wim Mertens ou a gravação de 1989, 100 Years of Music: Live In Lisbon, disco ao vivo de Blaine Raininger e Steven Brown que representa talvez o momento mais inesquecível da obra exterior aos Tuxedomoon desses dois elementos fundadores da banda. Com carreira que remonta a finais dos setentas, reativada em 2004 com a presença destes mesmos dois elementos centrais à identidade do grupo, os Tuxedomoon (naturais de San Francisco, na Califórnia) representam um dos mais interessantes casos de experimentação de ideias (incluindo um trabalho pioneiro com electrónicas) em berço new wave... Talvez algo esquecidos hoje (os azimutes da memória ainda não os foram recuperar, apesar de algumas reedições pela Crammed Records há alguns anos), os Tuxedomoon foram a plataforma que revelou Raininger e Brown. Este último, apesar de sobretudo conhecido a solo por trabalhos na área da música para cinema e outros entre as periferias do jazz e a procura pessoal de caminhos para a música para piano (e vale a pena escutar o seu álbum Music For Solo Piano, de 2008), lançou em inícios dos anos 90 um álbum de canções que, como um verdadeiro “ovni” numa discografia feita de outras demandas, gerou paixões e reações contrárias na época. Mas com o tempo acabou quase esquecido... Half Out é, como o próprio expressa no booklet, um trabalho coletivo com vários outros músicos (entre eles Reininger, ao violino) e foi lançado pela editora belga Les Disques du Crepuscule, pequena grande força editorial sobretudo nos anos 80 por onde militaram nomes como os de Isabelle Antena, Wim Mertens ou Anna Domino. Celebração ao final dos anos 80 (tal e qual a voz de Brown nos conta em Decade, que abre o alinhamento), Half Out é um disco que talvez peque pela dispersão de caminhos e heranças que o alinhamento sugere. Há uma recorrente noção de coluna vertebral de alma jazzística que o saxofone de Steven Brown assegura. Mas entre ecos da chanson em A Quoi Ça Sert L’Amour (dueto com Anouk Adrien), uma versão com travo parisiense de In The Still Of The Night de Cole Porter, a belíssima balada de arranjos sumptuosos que escutamos em San Francisco, o percurso algo floydiano de The Thrill, a cenografia cinematográfica vintage de Moaning Low, o minimalismo de Viologranni ou o mergulho electrónico (em registo late 80s) de Voodoo define-se um espaço onde a diversidade é visível, embora haja características de produção (grandiosa e sofisticada, muito na linha da época) e ideias transversais que seguram o todo como um corpo uno. Não se trata de uma pérola “incontornável” do seu tempo. Mas é um bom exemplo de um ciclo de canções não alinhadas aos rumos de então, que mostra um belo exemplo de diálogos entre formas e géneros musicais.