sexta-feira, junho 14, 2013

Os usos e costumes segundo Bonobo

Sabemos que a música tem um historial que a torna indissociável do trabalho especificamente cinematográfico da montagem — se outras provas não houvesse, bastariam as transformações narrativas geradas pela eclosão do som, em finais da década de 1920, cristalizadas depois na consolidação do género musical. Ao mesmo tempo, faz sentido perguntar até que ponto a montagem cinematográfica é, ela própria, uma questão musical. O teledisco de Bonobo, para o seu tema Cirrus, é uma eloquente demonstração dessa ambígua musicalidade.
Bonobo, nome artístico do músico, produtor e DJ inglês Simon Green, tem trabalhado, afinal, a partir de um sistema que pressupõe uma certa ideia de narrativa que passa pela montagem e remontagem dos sons. Integrando o seu quinto álbum de estúdio, The North Borders (2013), Cirrus surge, assim, encenado numa estrutura de repetições e diferenças em que, no limite, assistimos à elaboração de uma nova dinâmica arquitectural. Como se a sociologia dos usos e costumes, aqui remetendo-nos para os êxtases da "sociedade de consumo" dos anos 50, atraísse as delícias de uma artifício à beira da ficção científica — este será, por certo, um título obrigatório no top de telediscos de 2013.