terça-feira, junho 04, 2013

Novas edições:
Matthew E. White, Big Inner

Matthew E. White
“Big Inner”
Spacebomb
4 / 5

A ideia é coisa vintage e de boa memória. E basta-nos recuar aos dias de glória de editoras como a Stax ou a Motown para encontrar a sua boa expressão. Falamos da noção de “house band” (sim, literalmente a “banda da casa”), um conjunto de músicos diretamente ligados ao trabalho de rotina de um estúdio e sua editora, assegurando o suporte instrumental para muitos dos seus lançamentos e, porque não, ocasionalmente, os seus próprios discos... A recuperação deste modelo de trabalho – que era precisamente peça fulcral nas dinâmicas dessas duas editoras fundamentais na história do R&B e da emergência da música soul – entusiasmou Matthew E. White, figura que mesmo relativamente desconhecida fora das imediações de Richmond (na Virginia) tem já obra feita sobretudo a bordo do coletivo de jazz Fight The Big Bull ou como colaborador ocasional de nomes como os Mountain Goats, Justin Vernon ou Megafaun. Em 2011 Matthew fundou a sua própria editora, a Spacebomb Records, desde logo idealizando a criação de uma “house band” que poderia servir os seus discos. Na verdade nada como o “chefe” dar o exemplo, pelo que Big Inner [note-se a segunda leitura possível pelas palavras, cujo som sugere também "beginer", de estreante] representa agora a estreia em disco da editora, revelando que além de uma “house band” a sua estrutura envolve agora outros ensembles de apoio a gravações, nomeadamente um coro e secções de cordas e de metais. Sem ser um catálogo das cores e sabores da casa, Big Inner faz na verdade uso de todas as potencialidades humanas e instrumentais da Spacebomb, devendo contudo a sua alma à voz criativa de Matthew E. White e ao corpo de sete canções com as quais define o sedutor e promissor alinhamento deste disco de estreia em nome próprio. Sob ecos de várias referencias, do gospel a uma depuração elegante de elementos que vão de ecos do R&B a cenários alt-folk, envolvendo belíssimos arranjos para cordas e metais sob uma suave aura cósmica, Big Inner é um pequeno mundo feito de grandes surpresas. Revela uma música de horizontes largos, aberta à descoberta em canções que falam da vida, do amor, da fé. Pode não ser o disco “maior” de 2013 como algumas opiniões têm já defendido... Mas é, sem dúvida, uma das melhores surpresas do ano (apesar de ter sido lançado em 2012 nos EUA).