LALO SCHIFRIN |
Qual o lugar do cinema no espaço televisivo? Abrangente? Talvez... Mas até que ponto a variedade é um valor? E de que modo as especificidades cinematográficas são atendidas e respeitadas? — esta crónica de televisão foi publicada no Diário de Notícias (21 Junho), com o título 'Trabalhos da cinefilia'.
1. Vejo a mais recente crónica de Thierry Jousse no canal Arte e não posso deixar de pensar na quantidade imensa de abordagens do universo cinematográfico que desapareceram dos canais de televisão, mesmo os que se dizem especializados na “sétima arte”. Jousse fala de bandas sonoras, celebrando a obra desse grande compositor de Hollywood que é Lalo Schifrin (nascido na Argentina, em 1932). Curiosamente, a sua evocação, feita num tom pessoal, sem ostentação, situa a descoberta do compositor... na televisão!
De facto, Schifrin é autor do lendário tema da série dos anos 60 Missão Impossível que, aliás, tem sido retomado em todas as derivações protagonizadas por Tom Cruise. As suas composições surgiram associadas a títulos célebres de actores como Steve McQueen (O Aventureiro de Cincinnati, 1965) ou Clint Eastwood (A Pele de um Malandro, 1968), denotando uma extraordinária capacidade de integração das mais diversas influências. Jousse evoca duas delas: Olivier Messiaen e Dizzy Gillespie (Schifrin foi aluno do primeiro e integrou a Big Band do segundo). Estamos perante uma crónica televisiva que convoca sinais do cinema mais popular, da música erudita e do jazz, sem ter de enfrentar angústias pueris ou enredar-se em dramas de comunicação. Vivemos, enfim, num tempo em que os valores dominantes dessa mesma comunicação levam ao gasto de horas a tecer sinistros processos morais sobre as consequências de um fora de jogo que um árbitro não viu... Em menos de cinco minutos, Thierry Jousse vem apenas lembrar que a cinefilia é uma coisa maravilhosa e partilhável.
2. Numa altura em que está quase a chegar a segunda temporada de The Newsroom (EUA: 14 de Julho, na HBO), o TV Séries está a repetir a primeira. O retrato das relações humanas no interior de um canal de informação por cabo envolve uma sofisticação narrativa crítica que, em muitos aspectos, nos remete para abordagens da televisão pelo cinema como Network (Sidney Lumet, 1976) ou Edição Especial (James L. Brooks, 1987). Como é óbvio, Aaron Sorkin, o autor de The Newsroom, é um bom cinéfilo.