Eis um dos magníficos cartazes originais de From Here to Eternity/Até à Eternidade (1953). O aviso inserido no círculo — "Não adequado a crianças" — é bem revelador das diferenças de contexto. Dito de outro modo: este foi, de facto, um título transformador, em particular na representação das relações masculino/feminino — este texto foi publicado no Diário de Notícias (14 Junho), com o título 'Uma guerra de homens e mulheres'.
Uma boa notícia: os grandes clássicos continuam a reaparecer nas salas escuras. Depois de títulos como Vertigo e Lawrence da Arábia, eis que chega Até à Eternidade, de Fred Zinnemann. Distinguido com oito Oscars, incluindo melhor filme de 1953, Até à Eternidade pertence a um momento charneira de Hollywood: por um lado, abrindo perspectivas para uma nova visão da Segunda Guerra Mundial, para lá dos códigos tradicionais de heroísmo; por outro lado, construindo uma visão das personagens das mulheres que está para além do padrão da estrela clássica feminina, na época encarnada em todas as ambiguidades simbólicas de Marilyn Monroe (que, no mesmo ano, rodou o emblemático Os Homens Preferem as Louras).
O filme surpreende ainda hoje pela importância das suas figuras femininas, sobretudo se considerarmos que elas emergem no interior de uma paisagem dramática tradicionalmente masculina (uma base militar americana, no Pacífico, em vésperas do ataque japonês a Pearl Harbor). Deborah Kerr e Donna Reed adquirem, assim, um peso que está muito para além de qualquer função decorativa, de mera projecção dos fantasmas masculinos. Certamente não por acaso, o célebre beijo de Burt Lancaster e Deborah Kerr na praia, numa cena muito pouco ortodoxa para a época, permaneceu como ícone das ousadias da realização de Zinnemann.
Tudo isto ocorria num contexto em que a emergência dos nomes do Actors Studio era um decisivo factor de transformação. Aqui, é a presença de Montgomery Clift que faz a diferença, impondo um estilo de representação enraizado numa nova e revolucionária exploração das emoções humanas. Ironicamente, foi Frank Sinatra a ganhar um Oscar (melhor actor secundário), ele que assim superava também a sua condição de vedeta de filmes musicais.