Vampire Weekend
“Modern Vampires of The City”
XL Recordings / Popstock
5 / 5
Sem querer transformar os percursos de cada obra na expressão de uma certa agenda de acontecimentos, a verdade é que é muitas vezes entre o segundo e o terceiro álbum que começamos a ter noção da capacidade de haver ali uma carreira que vá para lá dos ecos naturais do eventual grande impacte de um disco de estreia e de um sucessor imediato que eventualmente tenha sabido manter aceso o estatuto e clima alcançados... Foi assim com Parklife para os Blur ou com OK Computer para os Radiohead, o “difícil terceiro álbum” mesmo não sendo uma regra geométrica representando contudo uma noção de barreira a vencer se o desejo é o de encarar os horizontes a longo prazo. É quase certo que a consciência desta “barreira” estava na mente dos Vampire Weekend quando, depois da digressão que se seguiu a Contra, resolveram encarar a criação do terceiro álbum como uma necessária expressão desse desejo em continuar. Pelo que já se leu em artigos publicados consta que terão sucessivamente deixado de lado as canções que iam surgindo no comprimento de onda semelhante às que haviam feito o tutano da linguagem indie pop, com pontuais temperos barrocos e luminosidade africana que foram marcando os dois primeiros álbuns. Ao mesmo tempo, e a concluir pelo alinhamento de 12 novas canções que nos apresentam em Modern Vampires of The City, optaram igualmente por não “contaminar” o som da banda com os ecos das experiências mais electrónicas ensaiadas pelo teclista Rostam Batmanglij no seu projeto paralelo Discovery e que se tinham feito sentir (embora discretamente) em alguns instantes de Contra. Ao mesmo tempo os quatro músicos nova iorquinos tinham pela frente um outro desafio: o de enfrentar uma imprensa “musical” frequentemente hostil a casos de sucesso maior nascido de berço indie, sobretudo se envolvendo músicos com look “betinho”, cabelos penteados e barbas feitas. Optando por agir no som e não na imagem (e pela primeira vez deixaram entrar um produtor entrar em cena), apresentam agora em Modern Vampires of The City um disco que os confirma como uma das bandas mais interessantes entre as que nasceram na década dos zeros e garante que podem mesmo ter pela frente uma carreira longa, frutuosa e marcante. Apesar da abertura de frestas aos ecos de vivências mais próximas de heranças rock’n’roll (como em Diane Young) ou de pontuais expressões de demandas experimentadas nos dois discos anteriores (como em Stay), o alinhamento do novo disco mostra uma banda mais tranquila, decidida a experimentar novas formas e ambientes e liricamente mais madura sem contudo perder as características de uma linguagem pop elegante e inteligente. Longe de ser um disco imediato, o álbum é contudo um pequeno mundo de canções capazes de seduzir e nos assegurar de que estamos perante algo que evoluiu para um patamar de maior segurança e, sobretudo, perenidade. Pode não jogar no terreno das paixões-à-primeira-escuta de um A-Punk, Mansard Roof ou Holiday, mas há aqui um lote de uma dúzia de canções que definem um conjunto coeso, consistente e consequente. Talvez menos luminosas no seu todo (e certamente mais melancólicas), mas não menos cativantes e igualmente expressão de uma relação com a sua cidade (na capa recorda-se mesmo uma imagem do dia em que o smog atingira valores sem precedente na paisagem nova iorquina). O tempo nos dirá sobre o modo como nos relacionaremos (nós ouvintes e a própria discografia do grupo) com este álbum (recordemo-nos que, seguindo o exemplo dos já citados Radiohead, depois de OK Computer chegaram os menos “populares”, mas decididamente mais pungentes Kid A e Amnesiac que haveriam de ditar os caminhos futuros da banda). O certo é que, depois da “revelação” de Vampire Weekend (2008), que podemos recordar como um dos maiores discos indie pop dos anos 00, e na sequência de Contra (2010) que tão bem soube dar conta de uma noção de continuidade, cabe a este terceiro álbum a transformação definitiva dos Vampire Weekend num dos casos mais sérios da música popular do nosso tempo. Um caso que alia sageza na construção musical e lírica (expressões naturais não só de vivências atentas e educadas) a uma inteligência no modo de pensar os próprios universos em volta desta música. De resto, basta ver a espantosa coleção de pequenos vídeos que criaram com Steve Buscemi (encenando a ideia da banda mais uncool do mundo) para reconhecer que há aqui mais que apenas quatro tipos que souberam juntar umas canções. Não são ainda uma instituição. Mas o novo disco deixa claro que têm tudo para continuar a construir uma obra maior.