segunda-feira, maio 27, 2013

Novas edições:
CocoRosie, Tales From a GrassWidow

CocoRosie
“Tales of a GrassWidow”
City Slang
3 / 5

Quando uma característica vocal domina a construção de uma linguagem (secundarizando o trabalho da escrita de canções) é frequente assistirmos a uma progressiva aproximação de eventuais becos sem saída sobretudo junto de quem dá demasiado protagonismo à exploração dessa marca de “identidade”. Se Björk soube (com melhores e piores resultados) ultrapassar a “barreira” de uma voz muito característica, explorando sempre novos contextos instrumentais, já os Sigur Rós são exemplo de uma certa exaustão que, salvo em pontuais momentos, lhes tem impedido a construção de um patamar que os leve para lá do terreno onde chegaram há já mais de dez anos. As CocoRosie podiam estar há já muito tempo no mesmo caminho dos Sigur Rós, tanto que desde cedo tomaram o seu aparentemente frágil registo vocal como principal expressão de identidade. Mas de álbum para álbum as irmãs Cassidy têm vindo a ensaiar novas ideias (na forma de novas abordagens instrumentais), tendo mesmo alcançado no anterior Grey Gardens um espaço aberto à revelação, com algumas das suas melhores composições... Estávamos então em 2010 e ficava no ar a promessa de uma eventual progressão que, o novo álbum respeita (embora na verdade pudesse ter ido ainda mais longe). A assimilação pop de uma matriz rítmica com alma hip hop em After The Afterlife e a deslumbrante presença de Antony Hegarty em Tears For Animals, o par de canções que abre o alinhamento do disco, parece até prólogo para um acontecimento maior. Noutros instante o disco revisita (e com canções interessantes) modelos já explorados, optando todavia por não acompanhar de fio a pavio a fulgurante luminosidade pop dos dois temas de abertura. Esses dois são, tal como Villain, que ouvimos mais adiante, canções que, mesmo mantendo vibrante um certo gosto pelo bizarro que sempre caracterizou a música deste par de irmãs, abrem novos horizontes na sua música, que vale a pena explorar mais e melhor adiante. Não que seja desencorajante o reencontro freak folk de Roots Of My Hair ou desinteressante a paisagem mais melancólica do belo End of Time. Mas Tales of a GrassWidow parece ser, no fim, quase uma oportunidade perdida de fazer o grande manifesto pop à la Cocorosie que estava ao seu alcance. Mesmo assim, saldo positivo para uma banda que parece que encontrou um caminho de saída para o que poderia ser mais uma armadilha vocal e seus maneirismos.