Podemos percorrer os fotogramas de To the Wonder/A Essência do Amor, de Terrence Malick, como um mapa carnal e simbólico — a mise en scène está nos detalhes.
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É uma herança visceral e complexa dos tempos agitados das "novas vagas". Encontramo-la na fascinante arquitectura de espaços desenhada por cineastas como Godard ou Straub/Huillet (recordemos esse filme modelar que é Crónica de Ana Madalena Bach): enquadrar não é mostrar uma zona do espaço mas, em boa verdade, sobrepor ao mundo visível um conceito de espaço. Digamos, então, que o classicismo, por regra, e pelo menos até Welles (Citizen Kane), era centrípeto: elaborava linhas que, de alguma maneira, aquietassem o espaço. Depois, a imagem passou a assumir-se como pólo visível do infinito labor do invisível — não ver tudo define uma nova ética de mise en scène. Onde está o plano subjectivo de Rachel McAdams? Não vai surgir. E esse desequilíbrio, prenunciado pela tensão das diagonais, define uma arte humana que a televisão quotidiana, na sua preguiça normativa, ainda não descobriu.
CRÓNICA DE ANA MADALENA BACH (1968) Jean-Marie Straub / Danièle Huillet |