A curta-metragem Plutão, de Jorge Jácome (Indie Lisboa), tem participação desta casa. Que é como quem diz: o Nuno Galopim assegura uma das personagens cuja importância começa na ausência da sua presença...
Eu explico: há um namoro de Verão (David Cabecinha/Joana de Verona) e há essa notícia bizarra, mas cientificamente objectiva, de que Plutão "deixou de ser considerado um planeta"... Entre a ressaca romântica e a reconfiguração das galáxias, emerge uma voz que interpela o protagonista masculino ou, talvez, acompanhe apenas a sua laboriosa memória de luto — essa voz (Nuno) possui o mistério envolvente de uma narrativa que nos faz hesitar entre o pendor descritivo da crónica e o apelo quase onírico da metáfora. E tanto mais quanto a sua dimensão corporal, sendo invisível, nunca desaparece do corpo do filme.
Servido por uma primorosa direcção fotográfica (Marta Simões), o filme corre constantemente o risco de se perder na própria perdição do protagonista, celebrando a agilidade do seu dispositivo e secundarizando as personagens. Mas é um risco que vale a pena partilhar, já que, em última análise, é a própria intimidade do tempo que aqui se encena — Plutão é, afinal, um estado de alma.