segunda-feira, abril 15, 2013

Leonskaja & Schubert

* GULBENKIAN: Sábado, 13 Abr. 2013, 19:00 - Grande Auditório
Integral das Sonatas para Piano de Schubert III
> Sonata em Mi bemol maior, D. 568
> Fantasia em Dó maior, Der Wanderer, D. 760
> Sonata em Sol maior, D. 894
* GULBENKIAN: Domingo, 14 Abr 2013, 19:00 - Grande Auditório
Integral das Sonatas para Piano de Schubert IV
> Sonata em Mi maior, D. 459
> Sonata em Lá maior, D. 664
> Sonata em Lá menor, D. 845

Nas gavetas de arrumação da história da música, Franz Schubert anda sempre a saltitar, numa arfante esquizofrenia estética: ele é um dos derradeiros clássicos e também um dos primeiros românticos... É duvidoso que Elisabeth Leonskaja queira apresentar qualquer solução definitiva para tal ziguezague. De facto, para além das classificações mais ou menos académicas, e do virtuosismo que as possa sustentar, a sua aposta parece ignorar a própria pressão das nomenclaturas.
Dir-se-ia que tudo começa num reconhecimento simples, mas de radicais consequências: na relação de Leonskaja com o piano, Schubert não é um autor a "interpretar" ou "transcrever", mas o nome de um continente à parte — ouvi-la no labirinto das suas Sonatas é também aceder a um mapa alternativo em que descobrimos que, para além de "temas", "melodias" e "andamentos", o compositor protagonizou o desejo imenso, insensato e genial de construir uma paisagem de pura contemplação interior que, comme il faut, envolve sempre um desafio visceral ao intérprete.
Daí, sem dúvida, o recolhimento frio em que descobrimos Leonskaja (neste caso redobrado por austeras vestes negras). Ela não está tanto a dar-nos a ouvir Schubert como a escutá-lo, deslumbrada com a imensidão que se lhe depara. Daí também o nosso deslumbramento — face ao pensamento do compositor, sentimos a ilusão de poder dizer o nosso pensamento por música. É uma ilusão sublime. Ou de reconhecimento de que o sublime existe.

>>> Elisabeth Leonskaja, aqui interpretando Mozart: Sonata K 332, Adagio.