terça-feira, abril 09, 2013

Entre memórias e lojas de discos
com Jorge Manuel Lopes

Iniciámos na última semana no Sound + Vision a publicação de uma série de memórias pessoais sobre os espaços das lojas de discos. Hoje passam por aqui as palavras do Jorge Manuel Lopes, da revista Time Out. Ao Jorge um muito obrigado pela colaboração.


A minha ideia de loja de discos perfeita é um espaço vasto, com discos (e livros, DVDs e o resto) do chão ao tecto e a maior variedade que humanamente seja possível. Um local essencialmente utilitário que encarne a diversidade de escolha e da democracia dos afectos. O absoluto oposto da loja de discos a la Alta Fidelidade, clube elitista em que se escarnece de quem entra e pede o disco “errado”.

As melhores lojas de discos onde entrei foram no estrangeiro. Apenas porque foi em cidades como Londres, Paris, Dublin, Estocolmo ou Miami que encontrei (o pretérito é, infelizmente, mais do que adequado) os maiores espaços com a maior diversidade. Nenhuma suplanta a há muito finada Tower Records de Piccadilly Circus, enclave americano no coração londrino, monumento labiríntico cuja memória olfactiva ainda preservo e onde comprei demasiados CDs, livros, jornais e revistas, em raides diurnos e nocturnos, sóbrio ou antes pelo contrário, para me lembrar de um em especial. Ao nível da Tower só a HMV de Oxford Street, com a incontornável parede onde se expunham os CD-singles do top 30 daquela semana. A única Virgin com lugar seguro na memória é a dos Campos Elísios, a minha primeira megastore (Natal de 1990), onde comprei What’s Going On (e Gala das Lush) ainda em vinil, por conveniência e não como statement.

Quando viajo, raramente me ocorre procurar música em lojas-boutique-gourmet. O que, na prática, significa que neste momento dificilmente encontraria loja que me interessasse. Há anos que compro os discos quase todos na Amazon. Pelas mesmas razões que antes me levavam às megastores. É na Amazon ou na iTune Store que sobrevivem as noções de middle ground e de grande público. Que prosperem por muito tempo, porque sem grande público não se geram grandes ideias.