quinta-feira, abril 18, 2013

Discos pe(r)didos:
The Darkside, All That Noise

The Darkside 
“All That Noise” 
Blanco Y Negro 
(1990) 

Sempre me pareceu que aos Spacemen 3 nunca foi ainda reconhecida a devida relevância histórica no quadro do panorama indie britânico da segunda metade dos oitentas. Contemporâneos de bandas como os The Jesus & Mary Chain (de origem escocesa) ou My Bloody Valentine (de berço irlandês), os Spacemen 3, surgidos em Rugby – no centro de Inglaterra – em 1982, foram igualmente uma peça-chave na abertura de novos horizontes para a música elétrica, explorando também os limites do ruído e da distorção, mas focando igualmente uma demanda herdeira de ecos do psicadelismo e um interesse por opções ocasionalmente mais minimalistas. O legado do grupo é vasto, da sua separação tendo surgido projetos como os Spiritualized (de Jason Pierce), as gravações a solo de Sonic Boom (ou seja, Peter Kember) e, entre outros mais projetos, o coletivo Darkside. Na verdade a génese dos Darkside é anterior ao fim da carreira dos Spacemen 3. O núcleo do grupo já existia quando Pete Bain se afastou dos Spacemen 3 ainda em finais dos oitentas, pouco depois acolhendo também o baterista Sterling Roswell. Editado em 1990, All That Noise foi então o cartão de visita do grupo (numa altura em que os Spacemen 3 estavam ainda ativos, embora já a caminho de um fim). Apesar de pontuais incursões por memórias “clássicas” (seja no revisitar da luminosidade das guitarras de uns Byrds ou na breve assimilação do ideário rítmico de escola r&b em Soul Deep), All That Noise é ainda um claro parente próximo da “escola” Spacemen 3. Com um quotidiano algo “assombrado” por sucessivas mudanças de alinhamento na banda, os Darkside revelavam já então um claro protagonismo de Pete Bain, que entretanto passara a assumir também o lugar de vocalista. Com o tempo o grupo procuraria alargar horizontes, alcançando em This Mystic Morning (canção do alinhamento do álbum Melomania, de 1992, e apresentada no mesmo ano numa versão remisturada no EP Mayhem to Meditate) o seu momento maior, traduzindo então ecos de um entendimento entre ritmos herdados da música de dança, as guitarras e uma certa atitude narcotizada apreendida entre os reflexos naturais de Screamadelica, dos Primal Scream. Contudo, mora no alinhamento de All That Noise o antecessor direto desse momento maior da obra dos Darkside, em Waiting For The Angels, canção dominada pelo diálogo entre guitarras e teclas que chegou a conhecer edição em single em 1991. Longe de ser um marco na história indie da alvorada dos noventas, o álbum de estreia dos Darkside merece contudo ser reconhecido como, a par das estreias dos demais projetos pós-Spacemen 3, como uma descendência de uma das mais inspiradoras bandas de guitarras nascidas na Inglaterra dos oitentas.