segunda-feira, março 18, 2013

Sob o signo de Mahler

Herbert Blomstedt
Sob a direcção de Herbert Blomstedt, a Gustav Mahler Jugendorchester deu mais dois magníficos concertos no Grande Auditório da Fundação Gulbenkian. Dir-se-ia uma paradoxal ironia: porque, nos seus joviais 85 anos, Blomstedt é um exemplo admirável de veterania, sobriedade e excelência, ao mesmo tempo que esta orquestra se reafirma como uma entidade exemplarmente construída sob o signo da juventude — e, claro, a inspiração tutelar da música de Mahler.

* FUNDAÇÃO GULBENKIAN, Grande Auditório (Sábado, 16 Março 2013, 18:00)

Ludwig van Beethoven era a referência deste concerto. A presença do pianista norueguês Leif Ove Andsnes [foto] ocupava o centro de todas as expectativas. E não por mero acidente, como é óbvio. Habitualmente apontado como um dos mais sofisticados especialistas da música de Edvard Grieg, está actualmente envolvido no projecto "Beethoven - A Journey" (gravação da integral dos concertos para piano de Beethoven, promovida pela Sony Classical). Na primeira parte, escutámos, precisamente, o Concerto para Piano e Orquestra nº 4, op. 58, obra charneira na produção do compositor, desde logo pelo "maior destaque (...) dado ao instrumento solista" (ver programa, texto de Rui Cabral Lopes). O mínimo que se pode dizer de Andsnes é que a riqueza cromática e sensual da sua performance corresponde por inteiro a essa urgência de criar novas formas de coexistência com a dinâmica global da orquestra. Complemento exemplar: a segunda parte foi preenchida com a Sinfonia nº 7, op. 92, cujo segundo andamento (Allegretto) bastaria para lhe conferir uma renovada actualidade simbólica, algures entre a consciência dramática do tempo e a celebração abstracta das matérias musicais.

* FUNDAÇÃO GULBENKIAN, Grande Auditório (Domingo, 17 Março 2013, 18:00)

Depois do dramatismo de Beethoven, o esplendor de Anton Bruckner: a Sinfonia nº 4, "Romântica", espelha uma lógica criativa cujas leis internas poderão fazer evocar (antecipando!) alguns modelos de montagem cinematográfica. Os quatro andamentos funcionam como narrativas de elaborados contrastes, gerando e decompondo sucessivos clímaxes, fazendo coexistir a pompa colectiva com prodigiosos hiatos de intimidade. A relação de Blomstedt com a sua jovem orquestra foi uma concretização modelar de tal processo, com as prolongadas ovações do público a completar a magia de um concerto empolgante.

>>> Esta é uma gravação da Sinfonia nº 4, de Bruckner, com a Filarmónica de Viena dirigida por Claudio Abbado — recorde-se que Abbado é o actual director musical da Gustav Mahler Jugendorchester, tendo sido o seu fundador, em Viena, no ano de 1986.