segunda-feira, março 18, 2013

"Smash": música & actores

Com o regresso da série Smash, reencontramos um universo televisivo em que os actores são, realmente, respeitados — este apontamento integra uma crónica publicada na revista de televisão do Diário de Notícias (15 Março).

A segunda temporada da série Smash (TV Séries) envolve um interessantíssimo efeito dramático, entre a perplexidade e a ironia, em parte semelhante ao impacto desse produto muitíssimo diferente que é The Walking Dead (Fox). É bem certo que, neste caso, se trata de reconverter o imaginário dos filmes de zombies, sendo Smash um retrato dos bastidores da Broadway e, mais concretamente, das atribulações humanas, narrativas e financeiras de um musical centrado na figura de Marilyn Monroe. Seja como for, em ambas as séries deparamos com o mesmo gosto de pesquisa e recomposição de modelos clássicos, enraizado em riquíssimas heranças cinematográficas.
Criado por Theresa Rebeck, contando com o nome de Steven Spielberg como um dos seus produtores executivos, o universo de Smash celebra, em última instância, a capacidade de transfiguração dos actores. Através das peripécias mais ou menos rocambolescas, por vezes francamente cruéis, das relações artísticas na Broadway, aquilo que vai sendo edificado é um retrato do próprio labor de composição, seja na representação em sentido estrito, seja através do canto.
Smash consegue fazer-nos perceber que a arte de representar pode ser uma tarefa de infinita subtileza e complexidade, não tendo nada (mas mesmo nada) a ver com a pueril ilusão de naturalidade que, todos os dias, para nossa maior desgraça, as telenovelas consagram numa rotina entediante e letal. Dizer a um actor para se limitar a “ser natural” é mesmo não ter qualquer consideração pelo carácter específico do seu trabalho.