sexta-feira, março 29, 2013

Reedições:
Inspiral Carpets, Life

Inspiral Carpets 
“Life” 
EMI Music 
3 / 5 

Passaram pouco mais de 20 anos sobre a edição do álbum de estreia dos Inspiral Carpets. E se da restante discografia do grupo pouco a história recordará um dia – nem mesmo singles como Two Words Collide ou Saturn V parecem ter resistido ao tempo que entretanto passou – deste primeiro disco vale a pena lembrar que, juntamente com o maravilhoso álbum de estreia dos Stone Roses e do também marcante EP Madchester Rave On dos Happy Mondays (e sublinhe-se que o álbum Pills’N’Thrills and Bellyaches sempre me pareceu sobrevalorizado), foi um dos pilares estruturais de um movimento que, na transição dos oitentas para os noventas, chamou atenções globais para o que estava a acontecer pelos lados de Manchester. Por “sugestão” do título do já referido EP dos Happy Mondays, convencionou-se então designar como Madchester ao “movimento” de bandas que, então, não só ensaiavam estimulantes cruzamentos entre as linguagens da cultura pop/rock e das formas emergentes da música de dança, mas também ensaiavam um olhar interessado sobre modelos e referências escutados em discos de finais dos anos 60, sobretudo entre o estimulante e caleidoscópico universo do psicadelismo. Convém lembrar que os Inspiral Carpets, surgiram em Oldham (arredores de Manchester) em meados dos anos 80 e que lançaram primeiras gravações em disco em 1988, a mudança de formação (para acolher a figura de Tom Hingley) tendo acompanhado o momento da focagem de interesses da Mute Records, que os assinou, editando em 1990 o álbum Life. Apesar do relativo protagonismo da voz de Hingley, a figura central na caracterização da identidade dos Inspiral Carpets deve mais ao trabalho de teclas de Clint Boon, filiado numa tradição que aponta a contribuição (igualmente característica e bem vincada) de Ray Manzarek nos Doors como modelo primordial. As canções, que traduzem contudo uma não menos marcante presença dos Kinks como grande herança, caminham entre as sugestões de (aparente) hedonismo que então se associava à vida noturna de Manchester e retratos de uma vivência urbana menos luminosa. De resto, o belíssimo This Is How It Feels (que representaria o êxito maior de toda a obra do grupo) representa um dos grandes retratos do quotidiano na Inglaterra de então. 23 anos depois, Life é um álbum que, apesar do seu impacte na época, mora hoje num espaço de memórias que não deram frutos e que, ao contrário do disco de estreia dos Stone Roses, não alcançou aquele patamar de imortalidade que abraça os feitos maiores da música pop. Canções como o já referido This Is How It Feels ou Sun Don’t Shine, que traduzem a face mais melancólica do alinhamento, resitiram melhor aos anos que passaram que o hino dançavel que então se anunciava ao som de She Comes In The Fall... A edição “expandida” junta alguns extras – entre os quais o EP Trainsurfing (1989), uma sessão gravada na BBC para John Peel ou uma versão do “clássico “ 96 Tears dos ? & The Mysterons – e um segundo disco com uma gravação (em DVD) ao vivo que coloca já em cena ideias que explorariam no segundo álbum, The Beast Inside, editado em 1991. A presente “nostalgia” dos noventas pode explicar a reedição. Mas estamos longe de reencontrar aqui um episódio maior da história dessa década.