sexta-feira, março 08, 2013

Reedições:
Fine Young Canibals, The Raw and The Cooked

Fine Young Canibals 
“The Raw and The Cooked” 
Edsel 
3 / 5 

Tiveram uma existência curta mas, durante os seus quase oito anos de atividade os Fine Young Canibals deixaram-nos um par de álbuns que representaram, na época, uma forte presença no panorama pop mainstream, embora o tempo tenha erodido a sua memória, relegando-a para pontuais espaços de nostalgia. Ou seja, nem criaram escola nem deixaram descendência, algumas das suas canções ocasionalmente chegando hoje às programações de rádio e televisão focadas nos oitentas, não parecendo ser o seu legado daqueles que hoje habitem entre os espaços de referencia do tempo em que viveram. Isto não nos impede de reconhecer nos seus dois álbuns – Fine Young Canibals (1985) e The Raw And The Cook (1988) – como peças que, mesmo sem a projeção (na época e rumo ao presente) de um Songs From The Big Chair, dos Tears For Fears, ou um So, de Peter Gabriel, representam episódios dignos de ser registados na história dos acontecimentos pop mainstream de origem britânica da segunda metade dos oitentas. A 25 anos de distância o álbum mais bem sucedido deste trio que juntava dois ex-The Beat (David Steele e Andy Cox) e um ex-Akrylykz (o vocalista Roland Gift) tem o sabor de coisa datada e algo inconsequente na capacidade em semear ideias mais adiante. Na verdade, e tal como o álbum de estreia do trio, The Raw and The Cook é um cockatil (bem polido, arrumado e apresentado) de ecos de memórias que passam pela Motown, a cultura mod, o movimento beat, um sentido rock clássico... A mais evidente presença de uma certa contemporaneidade surge na faixa que abre o disco e que é um clássico merecido do seu tempo. Cruzando ecos do passado pop que os motivava com o sentido elegante do minimalismo à la Prince (que no ano anterior nos tinha dado o sublime Sign of The Times), She Drives Me Crazy destaca-se do alinhamento. E tivesse o disco seguido caminhos igualmente vibrantes de diálogo entre o presente e a memória, e a mão cheia de canções de recorte clássico que aqui se mostram teriam ido mais longe (não no patamar do sucesso imediato, que não lhes falhou, mas na capacidade roubar este disco ao lugar datado e algo congelado na história onde hoje mora). A presença de Prince era desejo dos músicos para a cadeira da produção, perante a impossibilidade a editora acabando por chamar a estúdio David Z, antigo colaborador de Prince e irmão de um dos elementos dos The Revolution, que então o acompanhavam. Jerry Harrison (Talking Heads) e Jools Holland (ex-Squeeze) foram outros dois colaboradores, em conjunto com os Fine Young Canibals criando um disco de linhas claras, feito de regras clássicas e cheio de potenciais singles (ao todo seriam daqui extraídos seis), entre os quais temas que marcaram o seu tempo como Good Thing, I’m Not The Man I’m Used To Be ou Ever Fallen In Love, versão de um original dos Buzzcocks que tinham criado um ano antes para a banda sonora de Selvagem e Perigosa, de Jonathan Demme. Contudo, se escutarmos, além de She Drives Me Crazy, o algo invisível Don’t Let It Get You Down, que assimila ecos da contemporânea revolução acid house) reparamos quão potencialmente mais estimulante seria, mais até que a muito evidente presença de formas dos anos 60, uma mais profunda relação entre as canções do grupo e a nova música de dança. Relação que a presente reedição toma em conta, recuperando remisturas que dão outra luz a algumas canções como é por exemplo evidente na leitura de Jazzie B e Nelee Hooper para I’m Not The Man I’m Used To Be. O alinhamento (sobretudo entre a coleção de remisturas que preenche o CD2) podia ter incluído o single Tired of Getting Pushed Around (1987), do projeto a solo de Cox e Steele 2 Men A Drum Machine and a Trumpet, que definia aproximações à cultura house das quais a música dos Fine Young Canibals poderia ter beneficiado.