quinta-feira, março 28, 2013

Discos pe(r)didos:
Recoil, Hydrology

Recoil 
“Hydrology” 
Mute Records 
(1988) 

Tudo começou com um acaso. Daniel Miller, o “patrão” da Mute Records, pela qual os Depeche Mode então gravavam, escutou algumas das maquetes que Alan Wilder tinha gravado. Eram experiências instrumentais, usando samples, sob uma sonoridade próxima à dos Depeche Mode, mas longe dos formatos da canção pop. Um primeiro par de composições foi então editado num EP com o título 1 + 2 sob a designação Recoil, que nascia como projeto paralelo ao grupo (estatuto que manteria até à saída de Wilder, em meados dos anos 90). Com o tempo, o projeto Recoil evoluiria para um espaço de experimentação do formato da canção, contando então com colaborações vocais de nomes como os de Douglas McCarthy (dos Nitzer Ebb) ou Toni Halliday (dos The Curve) e, após o seu afastamento dos Depeche Mode, tornou-se no espaço central do trabalho de Alan Wilder. Mas um dos mais interessantes entre os títulos da discografia do projeto Recoil data ainda dos dias em que Wilder militava nos Depeche Mode e procurava ainda formas no espaço da música instrumental. Lançado em 1988 – quando o grupo estava em pleno ciclo 'For The Masses' – o álbum Hydrology apresenta três temas instrumentais que vão bem mais longe que as sugestões de ensaio sobre sons e forma que havíamos escutado entre os caminhos mais “mecânicos” de 1 + 2. O alinhamento abre com Grain, que parte de um ensaio minimalista para piano e eco, construindo depois um espaço cénico em seu redor. Mais elaborados, Stone e The Sermon são composições de perto de um quarto de hora cada, ensaiando sons e soluções electrónicas mais próximas da sonoridade dos Depeche Mode por alturas dos álbuns Black Celebration (1986) e Music For The Masses (1987), todavia procurando uma lógica distinta da que conhecemos das suas canções, mas revelando em comum um interesse pelas estruturas rítmicas e pela utilização de certos registos áudio disponíveis à tecnologia da época. The Sermon traduz ainda primeiras formas de trabalho sobre a voz, nomeadamente através da manipulação de gravações que nos libertam de uma geografia ocidental europeia e avançam, inesperadamente, por território africano... Hydrology (que em formato de CD seria editado com as duas composições de 1 + 2 como extra) é um disco claramente datado. Mas é uma peça interessante não apenas no quadro da demanda de uma música electrónica “popular” nos anos 80, como expressão direta de uma busca que, então, decorrida da vida dos Depeche Mode e acabava depois por realimentar a sua sonoridade.