terça-feira, março 05, 2013

Novas edições:
Lloyd Cole + Jans-Joachim Roedelius,
Selected Studies Vol. 1

Lloyd Cole + Jans Joachim Roedelius 
“Selected Studies – Vol. 1” 
Bureau B 
3 / 5 

Quando, em 1988, David Sylvian apresentou Plight and Premonition, um disco de música experimental co-assinado por Holger Czukay (referência fulcral do krautrock e um dos fundadores dos Can), na verdade não fazia senão dar um passo mais decisivo rumo à exploração de novos sons e de novos métodos de trabalho (leia-se a improvisação, que com o tempo ganhou espaço protagonista na sua obra), procurando como parceiro um dos colaboradores que em 1985 havia já convocado para o EP Words With The Shaman, disco instrumental que o tempo acabaria por reconhecer como um importante momento de descoberta (e indiciador de futuros destinos) da sua obra pós-Japan. Um outra figura de referência do kraut, o alemão Hans-Joachim Roedelius (que integrou os Cluster e Harmonia e assinou discos marcantes com Brian Eno nos anos 70) surge agora como um dos elementos de um par bem mais inesperado que a dupla Sylvian / Czukay: Lloyd Cole. Voz e timoneiro dos Commotions nos anos 80 e autor de uma sólida carreira enquanto cantautor de percurso a solo desde a separação do grupo, Lloyd Cole é figura que associamos naturalmente ao universo da canção, com as guitarras invariavelmente por perto. Pois nem uma coisa nem outra surgem nos espaços que, ao lado de Rodelius, percorre agora em Selected Studies – Vol. 1. Tal como no caso de Sylvian, houve um episódio anterior a uni-los. Trata-se do álbum Plastic Wood, disco ambiental (quase mediaticamente invisível) que Lloyd Cole editou em 2001 e que cativou a atenção de Roedelius, daí em diante surgindo um processo de troca regular de palavras, ideias e sons entre ambos, até que agora se materializam os primeiros ecos desse cruzamento. É fácil, ao avançar pelos espaços de formas ambient e feitos de electrónicas que fazem este novo disco, reconhecer sobretudo evidente a presença de Roedelius, tanto nos instantes mais próximos de uma noção de paisagismo abstracto como naqueles outros em que emerge alguma luminosidade e uma estrutura arquitectónica suportada por uma teia rítmica discreta, mas arrumada. Contudo, em Plastic Wood podemos encontrar já sinais de uma busca “ambiental” encetada em nome próprio por Lloyd Cole que, mesmo mais próxima de ideias escutadas em discos dos anos 70 que entre ecos diretos da sua discografia, é expressão tão genuína de um desejo de demanda pessoal quanto o foi o (pontual) disco a solo e experimental que Paddy MacAloon (dos Prefab Sprout) editou em 2007 sob o título I Trawl The Megahertz. Mais de 35 anos depois do lançamento das primeiras ideias que abriram caminho às ideias que cruzam o alinhamento destes Selected Studies, não estamos aqui perante uma proposta de revolução nas estéticas ambiente como o fizeram nomes como Aphex Twin ou The Orb na alvorada dos noventas. Temos, mesmo assim, um “mestre” fundador das correntes kraut e um dos melhores escritore de canções revelados nos oitentas num diálogo tranquilo em torno de caminhos que, com o tempo, se tornaram um espaço capaz de expressar já ideias de um certo “classicismo” em terreno nascido nas fronteiras da cultura pop com as da arte experimenta. Pode não ser o disco mais desafiante do momento. Mas leva a bom termo o desafio de colocar os dois músicos num espaço comum. Talvez com maior protagonismo (nem mesmo que referencial) de Roedelius. Mas que representa, ao mesmo tempo, a mais surpreendente proposta de Lloyd Cole em muitos anos.