sábado, março 16, 2013

Beethoven (quase) inédito

Michaela Kaune

* FUNDAÇÃO GULBENKIAN, Grande Auditório (Sexta, 15 Março 2013, 19:00)

Em alguns concertos das últimas temporadas, a programação de Risto Nieminen tem reflectido a preocupação de deslocar a apresentação tradicional de várias obras, abrindo perspectivas novas mesmo face ao que, em boa verdade, não pode ser "inédito". Aconteceu, desta vez, com Egmont, op. 84, de Ludwig van Beethoven, música de cena composta para a peça homónima de Goethe (sobre a luta do conde de Egmont contra o duque de Alba, nos Países Baixos de meados do século XVI — versão inglesa).
De facto, a convenção celebrizou a abertura de Beethoven, mas o resto da obra, como refere Francisco Sassetti nas esclarecedoras notas do programa, "quase desapareceu dos programas de concerto". Desta vez, pudemos escutar a integral do Egmont de Beethoven, com Michaela Kaune (soprano) e Fernando Luís (narrador) — acima de tudo, foi possível reencontrar a própria teatralidade do trabalho do compositor, numa versão revista e adaptada pelo maestro Lawrence Foster, desembocando na alternância palavra/música da secção "Melodrama", aí onde se diz "a divina liberdade revelava-se tomando a forma da minha amada".
A primeira parte do concerto trouxe-nos a Missa em Dó Maior, op. 86, de Beethoven, com o Coro e Orquestra Gulbenkian, sempre sob a direcção de Foster (com Pedro Teixeira como maestro do coro), e ainda, além de Michaela Kaune, Simona Ivas (meio-soprano), Noah Stewart (tenor) e Philipe Fourcade (barítono). Reencontro fascinante com uma peça de ambígua ortodoxia, hoje mais do que nunca (será a respiração pessimista do nosso presente?...), admirável pelo seu suave paganismo, habitado por uma serena sensualidade.
Aqui fica um registo do "Kyrie", neste caso pela Orquestra Sinfónica e Coro da Academia de Música e Teatro da Estónia, sob a direcção de Tõnu Kaljuste.