terça-feira, fevereiro 12, 2013

Óscar Cardozo / Pedro Proença

No meio da agitação do grupo, quem é o protagonista? Ou ainda: qual o centro simbólico a partir do qual se pode ler — e avaliar — a acção? Será que o título nos remete para o jogador infractor? Nesse caso, talvez tivéssemos qualquer coisa como: "O comportamento de Óscar Cardozo vai sair-lhe caro". Mas não. O título, utilizando o discurso na primeira pessoa — isto vai sair-te caro —, coloca no centro da significação uma outra personagem: Pedro Proença, o árbitro. Efeito prático: banalização da infracção do jogador (que protestou a sua expulsão, puxando a camisola do árbitro) e concentração dramática no juiz que aplica a lei, isto é, o árbitro.
Dir-se-ia um campo/contracampo cinematográfico que, afinal, pende para um único lado, uma só personagem. Neste segundo caso, com o mesmíssimo título (!!!) e uma imagem que acentua a atitude de reprovação do árbitro, reforçando a montagem (imagem + texto) anterior: Óscar Cardozo não passa de um figurante secundário; aquilo que é sublinhado, e empolado, é o gesto de sanção do árbitro. Ou ainda: o infractor tende a desaparecer da encenação jornalística (mostrar + dizer) para todo o protagonismo pertencer a quem aplica a lei.

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Escusado será lembrar que nada disto tem a ver com cores clubistas. Ou melhor, tem. Mas apenas no sentido em que, por regra, apenas se dramatizam de forma delirante as sanções aplicadas a jogadores dos chamados "grandes"; os "pequenos" são olimpicamente ignorados, a começar pelas suas proezas desportivas — onde está a imprensa que, este fim de semana, tenha dado prioridade simbólica, não aos desaires de Benfica e Porto, mas às proezas de Nacional e Olhanense?.
Também não se pretende sugerir que a gravidade do comportamento de Óscar Cardozo seja recalcada pelo Record ou A Bola. Acontece que há um imaginário futebolístico que, todos os dias, nem que seja por indiferença, vai favorecendo a automática demonização dos árbitros, ao mesmo tempo que santifica os jogadores, não lhes exigindo qualquer forma de responsabilidade profissional.
Neste caso concreto, nem que seja por bondade cristã, podemos admitir todas as atenuantes para o comportamento de Óscar Cardozo — em todo o caso, em termos jornalísticos, fica por mostrar que ele, e não Pedro Proença, é o verdadeiro protagonista de tão lamentável cena.