terça-feira, fevereiro 12, 2013

Novas edições:
Marc and the Mambas,
Three Black Nights Of Little Black Bites


Marc and The Mambas
“Three Black Nights Of Little Black Bites”
Cherry Red
3 / 5

Mais de 20 anos antes de Elle Driver (uma das assassinas do díptico Kill Bill, de Tarantino, interpretada por Daryl Hannah) ter inscrito a presença de uma mamba (serpente venenosa africana, conhecida como a mais veloz do mundo) na cultura popular, Marc Almond tinha usado uma inesperada referência ao mesmo grupo de ofídios para dar nome ao projeto através do qual assegurou um espaço de criação em paralelo aos Soft Cell e, de certa forma, talhou as bases para um percurso a solo. Estávamos em 1982 e, depois do sucesso global de Tainted Love (1981) e do álbum Non Stop Erotic Cabaret, os Soft Cell eram um dos nomes mais bem sucedidos de uma nova geração que fazia das electrónicas a sua ferramenta fundamental para a criação de canções pop. Contudo, a visão de Almond e Ball não se fechava num horizonte mainstream, a própria música dos Soft Cell evidenciando de resto outros caminhos e interesses. Foi contudo através de projetos paralelos que os dois músicos deram primeiros passos rumo a outros destinos, Dave Ball estreando-se em nome próprio em In Strict Tempo (editado em 1982), Marc Almond criando o projeto Marc and The Mambas onde, com colaborações de nomes como Matt Johnson (dos The The), Annie Hogan ou mesmo de Dave Ball (que colaborou num primeiro single), desenhou os primeiros sinais de uma busca progressivamente mais pessoal pelos terrenos da torch song e da chanson, que desenvolveria depois na sua obra a solo, sobretudo depois de Mother Fist (1987). Untiteled (1982) e o duplo (e quase épico) Torment and Toreros (1983) criaram um corpo de trabalho mais denso, tenso e assombrado que o que Almond antes apresentara nos Soft Cell, cruzando originais seus com versões de Jacques Brel ou Lou Reed. Foi aventura curta, abandonada quando os Soft Cell se juntaram (muito brevemente) para criar o seu quarto álbum (o último, até uma reunião que chegou anos mais tarde), editado já com o grupo separado. Agora, 30 anos depois de concertos que fizeram história no londrino Duke of York, o álbum ao vivo Three Black Nights Of Little Black Bites (com o subtítulo Live At The Duke Of York’s Theatre), aquele que ficou como o único registo gravado dos Mambas surge num pack com CD e DVD com um booklet assinado pelo próprio Almond. As gravações foram diretamente recuperadas de uma cassete VHS (a única fonte existente), pelo que a qualidade do áudio e do vídeo traduz o que a tecnologia atual conseguiu recuperar dessa fita captada por Peter Christopherson (dos Throbbing Gristle e Psychic TV). Assim, e meses depois de um único concerto de reunião (em agosto do ano passado), a memória documental de uma das mais criativas etapas da carreira de Marc Almond está finalmente disponível.