terça-feira, fevereiro 05, 2013

Novas edições:
Eels, Wonderful Glorious


Eels
“Wonderful Glorious”
Vagrant Records
4 / 5

Quando, há poucas semanas, entre a imprensa musical mais dada às coisas das modas e afins (a que gosta de procurar o que vão ser as tendências e não a que vai escutando o que acontece e depois pensa depois em função dos factos ocorridos) falava-se de 2013 como o ano do regresso das guitarras. Assim como voltariam as riscas aos padrões dos tecidos, regressariam as guitarras... Falava-se naturalmente de novas bandas e de opções que se adivinhavam próximas dos padrões da música indie para guitarras mais em voga na última saison (afinal falava-se de moda). A verdade é que, no início do seu segundo mês de vida, 2013 revelou até agora três belíssimos álbuns de canções onde as guitarras são protagonistas. São, contudo, assinados (todos eles) por veteranos nada dados às coisas das modas e das tendências do mercado indie light. Primeiro os Yo La Tengo. Depois Mark Eitzel (com aquele que talvez seja mesmo o seu melhor álbum a solo). E, agora, os Eels. Com um título que tem sabor de coisa arrebatadora, Wonderful Glorious é o décimo álbum que Mark Everett edita sob o nome Eels e, respeitando a essência de uma visão que tem definido uma das mais notáveis obras do panorama indie desde a sua estreia em Beautiful Freak (1996), é mais uma sólida coleção de canções nas quais a única coisa que temos por garantida à partida é a voz e a (cada vez mais apurada) verve do seu protagonista. O resto, é espaço para surpresa (e possível maravilhamento). Sem o transformar numa rotina de ciclos ou acontecimentos periódicos, este é um daqueles álbuns dos Eels em que a torneira da eletricidade jorra sobre as canções sem olhar aos gastos do contador. Sem as afogar, nunca as levando para lá de um patamar de uma certa placidez que assim domina o alinhamento, a eletricidade serve sobretudo rugosidades e reforça uma certa pulsação junto de parte de canções (como Bombs Away ou Kinda Fuzzy, nesta última o título deixando claro o terreno que pisamos) que convivem com belíssimas baladas onde tanto podemos encontrar simples diálogos para voz e guitarra ou monumentos de um saber experimentado na arte dos arranjos como o que antecede o tema título no final do alinhamento da versão standard do álbum em I Am Building a Light. Pelas palavras tanto mora um sentido de angústia e tensão, como o optimismo luminoso com que acorda para um novo dia ao dizer “I’m in a good mood today” depois do relato de memórias de uma véspera difícil, como nos conta em New Alphabet. Depois de, em 2010, Tomorrow Morning ter encerrado (com um dos seus melhores álbuns) uma trilogia que passara por Hombre Lobo (2009) e End Times (2012), Mark Everett deixa bem claro, em Wonderful Glorious, que ainda tem muito para nos contar.